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URBANISMO
Jardins públicos vão ter vegetação com árvores altas e plantas até 80 cm para evitar a formação de esconderijos
São Paulo adota paisagismo antiviolência
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL
As azaléias, coitadas, pagaram o
pato. A flor-símbolo de São Paulo
foi deixada de lado em parques,
praças e avenidas de São Paulo
desde que Marta Suplicy (PT) assumiu a prefeitura, há três anos.
Há pelos menos duas razões para
o sumiço: sua manutenção é dispendiosa e, sinal dos tempos, as
moitas que o arbusto forma tornaram-se um perigo a mais para
os dias violentos que correm.
Na reforma que a prefeitura fará
em três das principais praças do
centro da cidade (Sé, República e
Arouche) aparece com clareza as
novas ordens para o paisagismo
público. Em todas elas haverá só
árvores altas e plantas que não ultrapassem 80 cm de altura, segundo Sérgio Marin, 47, superintendente de paisagismo e meio ambiente da Emurb (Empresa Municipal de Urbanismo). Moitas acima dessa altura serão removidas.
"Azaléia é linda, mas vira esconderijo e exige muita manutenção.
Prefiro plantas mais rústicas",
afirma Marin. Segundo ele, o trabalho de paisagismo da Emurb
privilegia o aumento da biodiversidade e a criação de uma identidade ambiental para a cidade,
mas seria "irresponsabilidade" ignorar a escalada do medo pela
qual passa São Paulo.
A mudança nos jardins públicos
impulsionada pela violência não é
um fenômeno exclusivamente
paulistano. A Prefeitura do Rio de
Janeiro adota uma política idêntica. No parque mais famoso do
Rio, o do Flamengo, projetado
por Burle Marx, câmeras de vídeo
vão cuidar da segurança já que as
moitas não podem ser removidas
porque os jardins são tombados
pelo patrimônio histórico.
Há um conceito comum nas
três praças que serão restauradas,
todas dentro do projeto de revitalização do centro, financiado pelo
BID (Banco Interamericano de
Desenvolvimento). O objetivo é
deixá-las transparente ao olhar,
sem obstáculos no caminho.
O caso mais extremo talvez seja
o da praça da Sé. O miolo da praça
virou uma zona de exclusão, uma
área onde ninguém se arrisca a
frequentar por causa do risco de
assalto. Na reforma, a primeira
providência será remover as floreiras com mais de 1,5 metro de
altura que se tornaram esconderijo de meninos que vivem nas ruas.
"A praça da Sé vai virar uma
praça plana, sem plantas funcionando como barreira, para aumentar a segurança", diz Sérgio
Torrecillas, 40, subprefeito da Sé.
Sem a reforma, diz ele, a Sé continuará sendo só uma praça de passagem e não conseguirá cumprir
um dos planos da prefeitura de
revitalização do centro. O centro
com as praças vazias seria como
uma boca banguela, compara.
A avaliação de Torrecillas é que
sem segurança a reocupação seria
uma missão impossível. Tanto
que a prefeitura criou oito bases
24 horas da Guarda Civil Metropolitana na região central e está
mudando a iluminação e rebaixando os postes para aumentar a
claridade nos espaços públicos.
Bairros nobres
Não é só na área central que a
violência funciona como braço
auxiliar no redesenho de praças e
jardins. Na região da Berrini (zona sul) e no Alto de Pinheiros (zona oeste), dois dos espaços imobiliários mais valorizados de São
Paulo, paisagistas tiveram que banir arbustos por causa de segurança e outros inconvenientes.
Marcelo Faisal, 41, foi contratado pelos supermercados Pão de
Açúcar para recriar o jardim da
praça Panamericana, e a primeira
tarefa que enfrentou nada tinha
de paisagística -havia um grupo
de cinco moradores de rua vivendo debaixo das azaléias do canteiro central. "Só saíram com ajuda
da polícia", conta Faisal.
O paisagista manteve as azaléias, mas submete-as a podas
constantes. Mesmo assim, vire-e-mexe, aparecem moradores sob
as moitas. Para evitar a ocupação,
o paisagista recorreu a agaves (espécie que dá uma folha similar a
uma espada, tal qual o sisal) para
formar uma barreira.
Pior, na avaliação de Faisal, é
que as azaléias transformam-se
em banheiros públicos: "Azaléia,
sem manutenção constante, vira
uma espécie de favela vegetal ou
banheiro. A prefeitura faz bem
em reduzir o uso de arbustos, mas
precisa construir banheiros nas
praças e parques".
Isabel Duprat, 48, que criou os
jardins nos canteiros da avenida
Chucri Zaidan só com árvores e
plantas baixas, concorda que arbusto é inconveniente porque exige cuidados. Mas acredita que a
política da prefeitura serve para
mascarar a falta de manutenção
nos jardins públicos. "As áreas
verdes estão abandonadas. Não
adianta plantar árvores se não tiver manutenção."
Marin, da Emurb, concorda que
a manutenção é difícil quando se
pensa na escala de São Paulo. Só
na atual gestão, diz, 11 mil árvores
foram plantadas e cerca de 900
mil metros quadrados, o correspondente a 90 campos de futebol,
foram ou estão sendo ajardinados. No próximo ano, segundo
ele, quando as subprefeituras estiverem estruturadas, a manutenção dará um "salto de qualidade".
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