|
Próximo Texto | Índice
EDUCAÇÃO
Expansão, em velocidade recorde, ocorreu em menos de dois anos; instituições enfrentam ociosidade e inadimplência
Número de faculdades privadas cresce 45%
LUCIANA CONSTANTINO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
O ensino superior brasileiro teve nos últimos dois anos crescimento recorde no número de instituições privadas. No período, a
média foi de quase um estabelecimento particular novo a cada dia.
Somente de 31 outubro de 2001
até 30 de julho deste ano, as instituições privadas aumentaram
45% -544 foram autorizadas a
funcionar, ou seja, um estabelecimento a cada 1,2 dia. Entre 1998 e
2001, essa média era de uma instituição privada a cada 2,5 dias. De
1995 a 1998, ficava em uma a cada
13,7 dias.
Em 31 de outubro de 2001, data
de início da coleta do Censo do
Ensino Superior, o MEC indicava
a existência de 1.392 instituições,
sendo 1.208 privadas (86,8% do
total). O cadastro do ministério
indicava na quarta-feira passada
que o total tinha chegado a 1.960,
sendo 1.752 particulares (89,4%).
O número de instituições públicas também aumentou de 2001
até julho de 2003: de 183 para 208,
ou uma a cada 25 dias.
Toda essa expansão, no entanto,
não elevou significativamente o
número de alunos de classes mais
baixas na universidade. O país
também está ainda muito longe
da meta estipulada no PNE (Plano Nacional de Educação).
Segundo a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2001 do IBGE, apenas 9%
dos jovens entre 18 e 24 anos estavam matriculados em um curso
superior. Como o PNE estabelece
como meta ter 30% dos jovens
dessa faixa etária na universidade
até 2010, o ensino superior teria
que triplicar de tamanho para, ao
menos, chegar perto do objetivo.
Dados do IBGE mostram também que, num país onde apenas
7% da população com mais de 25
anos tem curso superior, os estudantes que chegam a esse nível de
ensino são da parcela mais rica.
Na universidade pública, seis
em cada dez alunos pertencem à
camada mais rica, segundo a
Pnad de 2001. Ou seja, 59,9% dos
alunos têm renda familiar per capita que os coloca entre os 20%
mais ricos da população. Nesse
grupo, a renda média mensal do
trabalhador era de R$ 1.875.
Uma tabulação feita pelo ex-presidente do IBGE Simon
Schwartzman mostra que o elitismo é uma característica de todo o
sistema, e não apenas das instituições públicas. Segundo a Pnad de
1999, os 20% mais ricos ocupavam 71% do total de vagas de instituições públicas e privadas.
A constatação do elitismo e a
necessidade de expansão têm levado universidades públicas e
particulares a procurar formas de
garantir a entrada e a permanência de estudantes mais pobres.
As instituições públicas buscam
alternativas para incentivar a inserção de alunos de classes mais
baixas, enquanto as privadas discutem formas de reduzir a inadimplência, que chega a 40% em
algumas instituições.
Públicas e particulares buscam
também diminuir a ociosidade.
Na rede privada, ela chegou a
31,2% das vagas oferecidas em
2001, um reflexo do aumento da
oferta em níveis superiores à demanda dos que podem pagar.
Para discutir esses problemas e
tentar traçar políticas para o ensino superior do século 21, o Ministério da Educação e as comissões
de Educação do Congresso realizam nesta semana, em Brasília, o
seminário "Universidade: por
que e como reformar?".
Com a participação de 16 intelectuais e uma série de entidades,
o evento vai discutir desde a autonomia universitária até a expansão da oferta de vagas e a avaliação da qualidade do ensino.
"A universidade perdeu sintonia com a sociedade", diz o secretário de Educação Superior, Carlos Roberto Antunes dos Santos.
Próximo Texto: Faculdades se adaptam a público de classe C Índice
|