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DANUZA LEÃO
Mãe, esse problema
Mães: a sua é exatamente
como você gostaria que ela
fosse? Duvido: nenhuma é.
Não existem mães perfeitas, até
porque a perfeição não é igual para todos os filhos.
Alguns têm como sonho supremo ter uma que cozinhe, lave,
passe, costure, seja carinhosa, dê
colo e, sobretudo, que saiba ouvir
(sem dar palpite). Mas aí o destino faz com que sua mãe seja Sophia Loren, e temos aí mais uma
criança frustrada. Que ela seja a
mulher mais linda que pode existir, uma atriz magnífica e admirada pelo mundo inteiro, de nada
vai adiantar (e se ela for uma
simples dona-de-casa que vive na
igreja rezando e se dedica a obras
de caridade, o filho vai ser tão
frustrado quanto).
A verdade verdadeira é que não
existe mãe perfeita -não para os
filhos: eles sempre querem que
elas sejam diferentes do que são e,
frequentemente, o contrário do
que são. Se tem cabelos brancos,
usa um coque, é caseira, está sempre pronta para cuidar dos netos,
conta histórias do passado, é resignada e deixa sempre no ar a
idéia do quanto é infeliz e solitária, é um problema.
Como eles gostariam de que ela
fosse mais alegre, tivesse se casado
de novo (para largar um pouco
do pé), que estivesse mais por
dentro dos acontecimentos do
mundo, usasse roupas coloridas e
às vezes incomodasse bastante
pedindo coisas. Mas não, ela só
fala de tristezas e doenças, e, assim, é claro que não dá.
Existem também as outras, que
sempre trabalharam, se mantêm
razoavelmente em forma, viajam
em grupo, gostam de uma bebidinha aos sábados e suspiram por
Antônio Fagundes. Se não dá para levar as primeiras a um restaurante, as segundas, então, nem
pensar. Elas são capazes de fazer
charme para quem não devem
-e mãe perto de filho não pode
se fazer de interessante- e de
contar histórias do passado,
aquelas bem inconvenientes, coisa que nenhum filho suporta. Para eles, mãe não pode ter tido um
só homem na vida além do seu
próprio pai -e, se teve, que fique
calada para sempre.
Não tem jeito: mãe e filho não
podem conviver socialmente, só
em casamentos e batizados, desde
que ela não toque em álcool. Em
alguns raros momentos de lucidez, eles até se conformam, lembrando que mãe não se escolhe
(mas nunca pensam que filho
também não).
Já as mães acham os filhos perfeitos. Para elas, eles são os mais
lindos, os mais inteligentes, os
mais talentosos, os mais sedutores
e, se alguma coisa na vida deles
não deu certo, a culpa é sempre
dos outros. Se o casamento foi para o brejo, é porque a mulher não
entendeu o tesouro que tinha nas
mãos; se foi demitido, é porque alguém da empresa em que trabalhava tinha inveja de suas qualidades, e por aí vai.
Se o filho se meteu em alguma
confusão, foi por culpa das más
companhias, se não conseguiu se
acertar na vida, é porque não teve
sorte, se tudo que faz dá errado, é
porque o mundo é injusto. Elas
acham que seus filhos são a oitava maravilha do mundo e repetem isso a cada instante, enquanto fazem o pratinho de que eles
mais gostam e arrumam a bagunça do quarto.
Aí, quando eles resolvem se tornar adultos -o que acontece cada vez mais tarde- e encontram
uma mulher que fala com eles de
igual para igual, aponta seus erros e reclama de alguma coisa,
eles se sentem incompreendidos e
infelizes. Culpa de quem? Da
mãe, é claro.
Como sempre, aliás.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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