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Especialistas apontam riscos da auto-ajuda
Dicas dadas por livros e programas, com tom de verdade, não devem ser seguidas cegamente, advertem os médicos
Facilidade das respostas prontas pode criar pessoas dependentes da auto-ajuda; dicas analisadas com visão crítica, porém, podem ajudar
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar do freqüente tom de
verdade universal, as dicas dadas por livros e programas de
auto-ajuda não devem ser seguidas cegamente, advertem
especialistas.
Primeiro, porque o problema
específico do leitor ou do espectador, mesmo tendo semelhanças, pode não ser bem
aquele que está sendo usado de
exemplo para a lição. Depois,
porque há muita bobagem sendo vendida como auto-ajuda.
É particularmente arriscado
seguir as orientações de livros e
sites feitos para quem deseja
perder peso sem ter o trabalho
de se consultar com um médico
ou um nutricionista.
"Não vou dar nome de livro,
mas existem por aí coisas absurdas associando perda de peso ao grupo sangüíneo ou às cores dos alimentos. Já li sobre a
dieta de Jesus, em que a pessoa
só come os alimentos citados
na "Bíblia", sobre a dieta em que
é proibido misturar frango e arroz e sobre uma que manda comer abacaxi o dia inteiro", enumera o médico Marcio Mancini, presidente da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo
da Obesidade e da Síndrome
Metabólica) e um dos diretores
da Sociedade Brasileira de Metabologia e Endocrinologia.
De acordo com Mancini, a
pessoa que segue essas dietas
corre o sério risco de cortar alimentos que contêm nutrientes
essenciais para a saúde.
"Quem se abstém de comer
carne pode ter deficiência de
vitamina B12, que é muito importante para o funcionamento
cerebral. Quem deixa de consumir o leite e seus derivados pode ter deficiência de cálcio, e o
organismo acaba retirando o
cálcio dos próprios ossos", ele
exemplifica.
Agressividade
Tentar repetir as técnicas de
adestramento ensinadas pelo
programa televisivo "Ou Eu ou
o Cachorro", do canal GNT, pode ser igualmente perigoso.
"Lidar com a agressividade
do cachorro é complicado", avisa Paulo Salzo, veterinário e
professor das universidades
Metodista e Bandeirante, de
São Paulo. "A agressividade do
cachorro pode se virar contra
as pessoas da própria casa."
Para a psicóloga e colunista
da Folha Rosely Sayão, a facilidade das respostas prontas pode deixar as pessoas dependentes da auto-ajuda. Diante de
uma dúvida, fica mais fácil recorrer ao manual do que pensar numa solução. "O meu receio é que as pessoas não reflitam, que não tenham um pensamento crítico", ela diz.
Com uma visão crítica, afirmam os especialistas, a auto-ajuda pode ajudar. "Você tem
que ver o que se aplica ao seu
caso e descartar todo o resto",
afirma a a psicóloga Dora
Lorch, autora do livro "Como
Educar sem Violência" (ed.
Summus).
Clichês
Adversários da auto-ajuda
dizem que livros como "Casais
Inteligentes" só falam obviedades e advogam clichês.
O leitorado de livros do estilo
"Casais Inteligentes Enriquecem Juntos" -há mais de dois
anos na lista dos mais vendidos- discorda.
"Clichê? Como clichê se uma
das máximas do livro é: "Entre
comprar uma casa à vista e alugar outra de mesmo valor, é
melhor alugar'", pergunta a instrumentadora cirúrgica Cláudia Pereira Terra, 37.
Sem o impulso de resenhas
favoráveis dos cadernos literários, a auto-ajuda vive principalmente do boca-a-boca feito
pelos leitores satisfeitos. Um lê,
indica para o outro, para o outro e para o outro. "Vende é
porque funciona", defende
Cláudia.
Vem do decano da auto-ajuda no Brasil, Lair Ribeiro, autor
do já clássico "O Sucesso não
Ocorre por Acaso", de 1992, a
advertência: "Ao contrário do
que muita gente imagina, a auto-ajuda não substitui o médico, o terapeuta, o psicólogo, ou
o especialista".
Ribeiro admite que o segmento "ainda está cheio de
aventureiros". E ele dá sua explicação: "Para ser engenheiro,
precisa ter cursado engenharia.
Para ser médico, precisa ter feito medicina. Para escrever livro
de auto-ajuda, não precisa nada. Só uma editora."
De acordo com Lair Ribeiro,
que é médico, "tem gente que
anda de ônibus, e não por opção", escrevendo sobre como ficar rico. "É piada", diz. Para ele,
é preciso informar-se sobre o
livro com quem já o leu e tentar
obter referências sobre o autor.
(RICARDO WESTIN e LAURA CAPRIGLIONE)
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