São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2008 |
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GILBERTO DIMENSTEIN O primeiro aplauso
O MIGRANTE NORDESTINO Lourival Rodrigues já estava aposentado, sempre se queixava de alguma dor no corpo e ficava quase todo o dia trancado em casa, no Jardim Ibirapuera, um daqueles cenários desolados na periferia da zona sul -nada a ver, portanto, com o parque Ibirapuera. Foi quando inesperadamente recebeu seu primeiro aplauso público. Desde então, sua vida mudou, até parou de reclamar de doença. O primeiro aplauso ocorreu por causa de um verso. Lourival soube de um boteco na zona sul chamado Bar do Zé Batidão onde se liam poesias. Entre rappers, sambistas, pagodeiros e poetas, Lourival encheu-se de coragem e leu seu texto. No meio da ovação, uma mulher aproximou-se dele e esbravejou: "Você arrasou". Ele olhou desconfiado: "Eu não sabia que arrasar não era acabar com alguma coisa". Os elogios tiveram um gosto de revanche íntima, não só porque tiraram Lourival da invisibilidade mas também porque o colocaram como um dos personagens de um documentário, lançado na segunda-feira passada, sobre saraus na periferia. PS: Coloquei no meu site (www.dimenstein.com.br) as imagens dos aplausos para Lourival. gdimen@uol.com.br
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