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DANUZA LEÃO
A primeira pisada na bola
Os eleitores brasileiros estão prontos para relevar -e
com a maior boa vontade- todas as gafes que serão fatalmente
cometidas pelo novo presidente,
em nome da sua origem, da sua
falta de convivência com o poder,
essas coisas. Lula pode beber a
água da lavanda, não saber comer uma ostra, pegar uma coxa
de frango com a mão num banquete e tudo lhe será perdoado, já
que tem qualidades mais importantes como firmeza, franqueza,
sinceridade, postura, senso de justiça, correção, ética etc.
Mas quando (no último domingo) ele dribla centenas de jornalistas dando uma desculpa (falsa), vai para a TV Globo para
aparecer no "Fantástico", e na
noite seguinte, com a imprensa
nacional e a internacional correndo atrás, ainda dá uma exclusiva à mesma emissora, aí pega
mal. Ah, todos os candidatos haviam se comprometido a isso, fosse quem fosse o eleito? Pois não
deviam. Nenhum presidenciável
pode assumir esse tipo de compromisso, porque não se deve privilegiar qualquer veículo de comunicação -não numa hora dessas.
Quando Lula chegou ao estúdio
da Globo para falar ao "JN", o
que era para ser uma entrevista
normal passou a ser Lula respondendo a perguntas aos poucos,
durante três ou quatro blocos.
Eleito há 24 horas, sem conhecer
as manhas da televisão e sem coragem de dizer não à toda-poderosa, ele jogou o jogo, e o que se
viu foi Lula como um dois de
paus, olhando e esperando, enquanto William Bonner dava as
notícias do dia. Parecia o "Sem
Censura", programa da TV-E no
qual quatro ou cinco pessoas vão
quando estão lançando um livro
ou um disco; enquanto um fala,
os outros esperam para vender
seu peixe, com direito a abrir a
boca às vezes.
Foi o que aconteceu na última
segunda-feira, só que um presidente da República eleito não pode se prestar a esse papel. Ok, a
campanha foi cansativa, o dia da
eleição estressante, as comemorações uma alucinação e talvez,
dentro do seu coração, Lula nem
acreditasse ainda que era o presidente eleito. Por não ser homem
de televisão ele talvez não tenha
percebido a humilhação pela
qual passaria, sentado na bancada, assistindo ao "JN". E mais:
pressionado em público por Fátima Bernardes -que confundiu a
eleição com a Copa do Mundo-,
se comprometeu a dar a ela, com
exclusividade, o nome de um futuro ministro. Lula se derreteu
diante da TV Globo; todo mundo
viu e ninguém vai esquecer tão
cedo.
O PT, tão rígido, conhecido pela
sua disciplinada militância, tem
que designar urgentemente um
assessor para acompanhar Lula
24 horas por dia. Um assessor que
negocie -ele e não o presidente-, na hora em que surgirem
propostas desse tipo. Uma assessor jogo duro, que saiba dizer o
não que Lula não soube dizer.
Apenas 24 horas depois de ser
eleito, essa pisada de bola foi um
balde de água fria na cabeça dos
que votaram nele.
PS - A imprensa noticiou que
Regina Duarte telefonou para o
comitê querendo falar com Lula.
Uma sugestão: os dois fazerem as
pazes -diante das câmeras da
Globo, claro.
Não seria lindo?
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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