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Negros convivem com "enrustidos"
DA REPORTAGEM LOCAL
A estudante de direito Marize
da Silva, 28, é a única aluna assumidamente negra de sua classe,
formada por 95 alunos, na Universidade de Santo Amaro (Unisa), zona sul de São Paulo. Defensora das cotas, Marize afirma que
há outros dois negros na turma,
mas que não assumem a cor.
"O único amigo que eu tenho
não se assume de jeito nenhum.
Ele tem todos os traços de negro,
mas se diz branco. Fazer o quê?",
afirma ela, bolsista da Unisa graças a um convênio da instituição
com a Educafro.
"Há muito preconceito contra o
aluno bolsista. Há estudantes que
pensam que ele paga indiretamente a minha mensalidade. Já o
racismo é sutil. Tem gente que fala: "Mas o seu cabelo não é tão
ruim, por que você não alisa?" Eu
respondo: cabelo ruim é aquele
que não nasce", conta.
História
O estudante de engenharia da
Universidade de São Paulo Renan
Alves, 21, vive a mesma experiência. Tem um único amigo negro
na faculdade, que se diz branco. A
classe tem 65 alunos.
Débora Adão, 25, estudante de
letras da Universidade São Camilo, tenta convencer as colegas negras a rever a posição. Ela é também das poucas que assume a
condição, com orgulho. "Isso, para mim, é desconhecimento da
história do Brasil, do massacre
feito com os negros neste país.
Vamos continuar com medo?",
questiona a estudante.
Preconceito, porém, não é o
maior problema enfrentado pelos
universitários negros. A falta de
dinheiro é pior. "A questão das
cotas se mistura com a da situação financeira. Só que, no Brasil, a
pobreza tem cor. As cotas não vão
reduzir a discriminação, mas são
um avanço", afirma o estudante
de publicidade e propaganda
Douglas Elias, 23.
Antes de ingressar no curso do
Centro Universitário Salesiano de
São Paulo (Unisal), Elias teve de
abandonar o de jornalismo, pelo
qual sonhava, no segundo ano,
por não poder pagar as mensalidades da Universidade Braz Cubas, em Mogi das Cruzes, região
metropolitana da capital.
A Unisal foi o que a Educafro
pôde oferecer ao estudante no
momento. Somente em São Paulo, a organização não-governamental mantém 711 bolsistas em
18 instituições diferentes.
Entre as universidades que se
destacam nesse programa, estão a
Metodista e a Unisal, com 103 estudantes cada uma, a Unisa, com
78 bolsistas, e a São Camilo, com
51. A Educafro enviou ainda 18 estudantes para Cuba, onde cursam
medicina e direito internacional,
entre outras faculdades.
"Nós, da Educafro, quando entramos na universidade, o fazemos para estimular a consciência
negra daqueles que se escondem", diz José Cano Herédia, 20,
estudante de publicidade da Unisal. "Eu não sou moreninho, sou
negro", completa José, um dos
mais claros do grupo.
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