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DANUZA LEÃO
Aposentadoria: o perigo
É claro que todos nós, várias vezes durante a vida, sonhamos com o glorioso dia de parar de trabalhar -a famosa aposentadoria de que tanto se fala;
tem gente que já escolhe o primeiro emprego pensando nisso, e todo mundo sabe que as mulheres
que começam a trabalhar com 18
podem se aposentar aos 48. Muito
justo, depois de 30 anos ralando.
Mas, se fosse eu, pensaria muito
antes de tomar a decisão.
Houve um tempo em que as
mulheres de 30, as balzaquianas,
eram consideradas quase velhas.
Ridículo, não? Hoje, homens e
mulheres por volta dos 50 estão
em plena forma física e mental, e
a contribuição que podem dar ao
trabalho que fazem, com a experiência que acumularam, é inestimável.
Quem se aposenta aos 50 vai fazer o que da vida? Cuidar dos filhos? Não, esses já cresceram. Dos
netos? É o caminho mais curto
para virar uma anciã. Jogar biriba com as amigas, ver novela? Logo, logo, vai entrar em depressão
-a famosa síndrome da aposentadoria. É melhor colar selo o dia
inteiro, implicando com a colega
que passa o dia no telefone, ansiando pelo fim de semana e pelas
férias, do que ficar em casa lembrando o passado ou pensando
em doenças, na velhice e na morte. Quem trabalha permanece
saudável, pois está atuando e participando do mundo -seja em
que atividade for.
Quantos anos tem Lula, que começou a trabalhar ainda menino? Cinquenta e sete. Quantos
anos tinha Fernando Henrique
quando deixou a Presidência? Setenta, acho. Maria da Conceição
Tavares, botando fogo pelas ventas? Setenta e dois. Bibi Ferreira?
Oitenta. Fernanda Montenegro?
Muitos. Oscar Niemeyer? Noventa e quatro. Todos ti-nin-do.
Aposentar-se é um perigo:
quem não tem um amigo aposentado triste e infeliz? E o oposto:
quem tem um amigo aposentado
alegre e feliz, depois de seis meses
sem fazer nada? Se nem os ricos
escapam -eles que podem passar a vida fazendo cruzeiros pelo
mundo-, imagine os pobres. Estão melhor os que, com 70 ou 80,
por necessidade ou sabedoria,
têm a felicidade de estar cuidando de suas coisas, isto é, trabalhando: o dia é longo quando não
se faz nada, e passar o resto da vida num feriado eterno é de pirar.
Quem trabalha está inserido no
mundo; tem seus aborrecimentos
mas escapa daquela tristeza letal
de não saber como ocupar o tempo, daqueles momentos de vazio
tão frequentes aos que não têm
uma atividade. E já que o PT gosta tanto de uma novidade, poderia inventar mais uma: a pré-aposentadoria.
A partir de uma determinada
idade, a pessoa teria diminuída a
sua carga horária: quem trabalha
oito horas por dia passaria a trabalhar quatro, e parte desse tempo seria dedicado a formar os que
estivessem começando na profissão. Por um lado, seria uma fase
de adaptação à nova etapa da vida; por outro, estaria ajudando a
formar os novos profissionais,
cargo que não costuma existir nas
empresas. Quem não se lembra
do primeiro dia num trabalho
novo, quando não se sabe nem
onde é o banheiro e a lanchonete,
quanto mais trabalhar?
Faltou à campanha que está
querendo esclarecer a população
sobre os problemas da Previdência dizer -e mostrar, com exemplos e depoimentos- que, tendo
saúde, trabalhar ainda é a melhor maneira de viver.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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