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São Paulo, domingo, 04 de maio de 2003

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SAÚDE

Apesar dos avanços médicos, índice de sobrevivência do prematuro no Brasil é 30 pontos percentuais inferior ao dos EUA

60% dos bebês abaixo de 1 kg sobrevivem

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Natália nasceu na 26ª semana de gestação, pesando 490 gramas e medindo 30 cm, pouco menos que a largura desta página. No primeiro mês de vida, teve complicações no pulmão e coração e foi submetida a duas cirurgias. Hoje, aos seis meses e pesando 5 kg, a garota aparentemente não tem sequelas, frequenta o berçário e dispensa cuidados especiais.
O que anos atrás poderia ser interpretado como um milagre está se tornando realidade nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) neonatais do país: a sobrevivência de bebês prematuros de baixo peso extremo, ou seja, com menos de 1 kg, em até 60% dos casos. No Brasil, 5% dos prematuros nascem com baixo peso extremo, segundo o Ministério da Saúde.
A Organização Mundial de Saúde considera prematuro todo bebê que nasça antes da 37ª semana de gestação. Por dia, cerca de 700 bebês vêm ao mundo nessas condições. No Brasil, a média é de um prematuro a cada dez nascimentos. Em alguns serviços médicos, como o Hospital São Paulo, ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o índice de prematuros é bem maior, cerca de 25% do total de nascimentos.
Segundo a neonatologista Ana Lúcia Goulart, chefe do ambulatório de prematuros do hospital, as taxas de sobrevivência dos prematuros extremos dependem da idade gestacional e das condições de atendimento e de infra-estrutura das UTIs neonatais.
Ela diz que os índices de sobrevivência dos bebês abaixo de 1 kg nascidos no país estão bem abaixo dos verificados nos EUA, que chegam a 90%. Uma das razões seria o déficit de leitos em UTIs neonatais. No HSP, por exemplo, existem oito leitos para atender uma demanda de 25 prematuros extremos por mês. A alternativa, diz ela, é encaminhar os bebês "excedentes" a outros hospitais.
O transporte, no caso desses prematuros, representa um risco adicional à vida. "A melhor ambulância é o útero", afirma o cirurgião neonatal José Armando Mari, referindo-se à necessidade de a mãe dar à luz em um local apropriado, evitando, assim, a transferência do bebê.
Segundo dados do Ministério da Saúde, a rede pública conta hoje com 1.554 leitos neonatais. Não há levantamento preciso do déficit, mas, grosso modo, considerando o número de bebês prematuros que nascem diariamente, eles poderiam ficar, no máximo, dois dias internados para haver vagas para todos. Mas a realidade é diferente: esses bebês ficam internados em média um mês.
O grande desafio das equipes médicas tem sido garantir a esses pequeninos não apenas a sobrevivência, mas também a qualidade de vida. No Brasil, inexistem dados abrangentes sobre as sequelas que podem afetar essas crianças no futuro, mas há estudos que relatam problemas de coordenação, atraso na linguagem, deficiências auditivas e visuais, distúrbios neurológicos, entre outros.
Além do aperfeiçoamento da equipe médica e da infra-estrutura das UTIs neonatais, as cirurgias feitas nos prematuros aumentam as chances de vida. Na maternidade Santa Joana/Pro Mater, por exemplo, dos 27 bebês com menos de 1 kg operados nos últimos dois anos, 20 sobreviveram.
Segundo o cirurgião José Armando Mari, a maioria das cirurgias em prematuros extremos é feita para corrigir alterações cardíacas, pulmonares e gastrintestinais, além de hemorragias intracranianas, causadas pela prematuridade dos órgãos dos bebês.
Foi o caso de Natália, que nasceu com deficiência no pulmão e coração. Antes de dar à luz à menina, a bancária Maria Rita Vianna, 39, havia perdido nove bebês prematuros, que tinham idades gestacionais e pesos iguais ou superiores aos de Natália. Os abortos ocorreram em razão do amadurecimento precoce da placenta.
Segundo a neonatologista Alice Deutsch, as infecções maternas, a diabetes gestacional e a hipertensão arterial figuram entre as maiores causas da prematuridade. Ela diz que muitos casos poderiam ser evitados se a mãe fizesse um pré-natal correto.


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