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SAÚDE
Apesar dos avanços médicos, índice de sobrevivência do prematuro no Brasil é 30 pontos percentuais inferior ao dos EUA
60% dos bebês abaixo de 1 kg sobrevivem
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Natália nasceu na 26ª semana de
gestação, pesando 490 gramas e
medindo 30 cm, pouco menos
que a largura desta página. No
primeiro mês de vida, teve complicações no pulmão e coração e
foi submetida a duas cirurgias.
Hoje, aos seis meses e pesando 5
kg, a garota aparentemente não
tem sequelas, frequenta o berçário e dispensa cuidados especiais.
O que anos atrás poderia ser interpretado como um milagre está
se tornando realidade nas UTIs
(Unidades de Terapia Intensiva)
neonatais do país: a sobrevivência
de bebês prematuros de baixo peso extremo, ou seja, com menos
de 1 kg, em até 60% dos casos. No
Brasil, 5% dos prematuros nascem com baixo peso extremo, segundo o Ministério da Saúde.
A Organização Mundial de Saúde considera prematuro todo bebê que nasça antes da 37ª semana
de gestação. Por dia, cerca de 700
bebês vêm ao mundo nessas condições. No Brasil, a média é de um
prematuro a cada dez nascimentos. Em alguns serviços médicos,
como o Hospital São Paulo, ligado
à Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo), o índice de prematuros é bem maior, cerca de 25%
do total de nascimentos.
Segundo a neonatologista Ana
Lúcia Goulart, chefe do ambulatório de prematuros do hospital,
as taxas de sobrevivência dos prematuros extremos dependem da
idade gestacional e das condições
de atendimento e de infra-estrutura das UTIs neonatais.
Ela diz que os índices de sobrevivência dos bebês abaixo de 1 kg
nascidos no país estão bem abaixo dos verificados nos EUA, que
chegam a 90%. Uma das razões
seria o déficit de leitos em UTIs
neonatais. No HSP, por exemplo,
existem oito leitos para atender
uma demanda de 25 prematuros
extremos por mês. A alternativa,
diz ela, é encaminhar os bebês
"excedentes" a outros hospitais.
O transporte, no caso desses
prematuros, representa um risco
adicional à vida. "A melhor ambulância é o útero", afirma o cirurgião neonatal José Armando
Mari, referindo-se à necessidade
de a mãe dar à luz em um local
apropriado, evitando, assim, a
transferência do bebê.
Segundo dados do Ministério
da Saúde, a rede pública conta hoje com 1.554 leitos neonatais. Não
há levantamento preciso do déficit, mas, grosso modo, considerando o número de bebês prematuros que nascem diariamente,
eles poderiam ficar, no máximo,
dois dias internados para haver
vagas para todos. Mas a realidade
é diferente: esses bebês ficam internados em média um mês.
O grande desafio das equipes
médicas tem sido garantir a esses
pequeninos não apenas a sobrevivência, mas também a qualidade
de vida. No Brasil, inexistem dados abrangentes sobre as sequelas
que podem afetar essas crianças
no futuro, mas há estudos que relatam problemas de coordenação,
atraso na linguagem, deficiências
auditivas e visuais, distúrbios
neurológicos, entre outros.
Além do aperfeiçoamento da
equipe médica e da infra-estrutura das UTIs neonatais, as cirurgias
feitas nos prematuros aumentam
as chances de vida. Na maternidade Santa Joana/Pro Mater, por
exemplo, dos 27 bebês com menos de 1 kg operados nos últimos
dois anos, 20 sobreviveram.
Segundo o cirurgião José Armando Mari, a maioria das cirurgias em prematuros extremos é
feita para corrigir alterações cardíacas, pulmonares e gastrintestinais, além de hemorragias intracranianas, causadas pela prematuridade dos órgãos dos bebês.
Foi o caso de Natália, que nasceu com deficiência no pulmão e
coração. Antes de dar à luz à menina, a bancária Maria Rita Vianna, 39, havia perdido nove bebês
prematuros, que tinham idades
gestacionais e pesos iguais ou superiores aos de Natália. Os abortos ocorreram em razão do amadurecimento precoce da placenta.
Segundo a neonatologista Alice
Deutsch, as infecções maternas, a
diabetes gestacional e a hipertensão arterial figuram entre as
maiores causas da prematuridade. Ela diz que muitos casos poderiam ser evitados se a mãe fizesse
um pré-natal correto.
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