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PLANTÃO MÉDICO
Descoberta chama a atenção de pesquisadores para aplicação do medicamento contra hipertensão pulmonar
Médico salva a vida de recém-nascido com Viagra
JULIO ABRAMCZYK
COLUNISTA DA FOLHA
O bebê tomou Viagra e não foi
por engano. O sildenafil, princípio ativo do remédio usado em
casos de disfunção sexual, evitou
a morte da criança. Na realidade,
não apenas dela mas também de
outras duas com hipertensão pulmonar (aumento da pressão sanguínea na artéria pulmonar).
A doença ocorre com relativa
frequência em recém-nascidos
com problemas no coração (cardiopatia congênita); nos adultos,
é decorrência de doença pulmonar obstrutiva crônica ou enfisema. Sem tratamento, pode causar
insuficiência respiratória -que
pode levar à morte.
A droga foi dada ao bebê por via
oral para dilatar os vasos sanguíneos dos pulmões, visando reduzir a hipertensão pulmonar.
O sildenafil bloqueia a atividade
da enzima fosfodiesterase tipo 5
(PDE 5). Essa inibição aumenta a
produção de óxido nítrico pelo
organismo, o que relaxa a parede
interna dos vasos saguíneos.
É o mesmo mecanismo de ação
do gás óxido nítrico, empregado
por inalação no tratamento de bebês com cardiopatia congênita.
A iniciativa do médico Parapurath K. Rajiv, chefe do Serviço de
Recém-Nascidos do Instituto
Amrita de Ciências Médicas, em
Kochi (Índia), despertou críticas
de autoridades médicas locais no
ano passado.
Rajiv se defendeu: "Havia crianças morrendo na minha presença.
Como médico, tinha a responsabilidade de usar todos os métodos
disponíveis para salvar meus pacientes". Todos os outros tratamentos tinham falhado.
Controverso ou não, o tratamento despertou a atenção dos
pesquisadores. Poucos meses depois, a droga foi usada experimentalmente no Royal Brompton
Children's Hospital, em Londres,
e em outros centros médicos.
O diretor da Clínica de Hipertensão Pulmonar do hospital
prescreveu sildenafil para crianças refratárias a outros tratamentos e informou ter observado
poucos efeitos colaterais.
Novas indicações
Não é a primeira vez que um remédio com uma indicação médica passa a ser usado para outra
doença. Na realidade, o caminho
do sildenafil mudou de rumo desde o início dos ensaios clínicos. Os
testes iniciais visavam estudar a
sua eficácia para a hipertensão arterial sistêmica, mas os resultados
foram desanimadores.
O novo produto já estava sendo
descartado quando a atenção dos
médicos do Pfizer foi despertada
pela solicitação dos homens que
participaram do estudo. Eles haviam sentido visível melhora da
atividade sexual e solicitavam os
comprimidos excedentes.
Com essa nova visão sobre a atividade da droga, os testes passaram a ser dirigidos para a área da
disfunção sexual. Surgiu, então,
com sucesso, a pílula do homem.
Nova vida
A mesma vasodilatação que deu
nova vida a adultos está agora salvando as crianças. Médicos verificaram que o sildenafil é um vasodilatador pulmonar seletivo com
maior poder do que qualquer outro agente químico disponível.
Há, entretanto, uma crítica de
alguns especialistas: remédios
desse grupo não devem afetar a
pressão arterial do organismo. A
pressão geral pode cair nos pacientes que recebem sildenafil,
mas não quando usam a inalação
do gás óxido nítrico.
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