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RETRATOS DO BRASIL
Quase 320 mil pessoas, o equivalente à população de Bauru (interior de SP), habitam lares unipessoais
Centro é reduto de quem vive só em SP
EDNEY CIELICI DIAS
DA REDAÇÃO
As pessoas que moram sozinhas
na cidade de São Paulo se concentram na região central e em distritos das zonas oeste e sul próximos
ao centro. Em 2000, ano do último censo, elas somavam 318.080
na capital e ocupavam 10,7% dos
lares -um crescimento de 25,9%
em relação a 1991, quando representavam 8,5% dos domicílios.
Levantamento feito pela Folha,
com base em dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), permitiu fazer o mapeamento dos chamados domicílios
unipessoais da capital paulista.
O distrito República possui o
maior percentual de residências
com um morador, totalizando
37,1% das moradias da área. Na
região central, há outros seis distritos com mais de 20% (a média
da cidade é de 10,7%): Bela Vista
(31,0%), Consolação (29,9%),
Santa Cecília (28,1%), Sé (26,6%),
Liberdade (24,7%) e Brás (20,9%).
A concentração elevada se estende em direção à zona oeste:
Jardim Paulista (26,8%), Barra
Funda (23,9%), Pinheiros
(22,9%) e Itaim Bibi (21,8%).
Com menos intensidade, percentuais elevados são detectados
na zona sul: Moema (24,0%), Vila
Mariana (19,9%), Saúde (16,2%) e
Campo Belo (15,0%). Nas zonas
norte e leste, os distritos não atingem a marca de 15%.
"A concentração de unipessoais
é uma tendência em bairros de
classe média em que há edifícios
mais antigos, sem os confortos
que passaram a ser incorporados
às construções a partir dos anos
70, como áreas comuns e de lazer", pondera Luiz Antonio Pinto
de Oliveira, 55, chefe do Departamento de População e Indicadores Sociais do IBGE.
"De um modo geral, são regiões
pouco procuradas por famílias
com filhos, mas que são atraentes
para as pessoas que moram sozinhas", diz Ana Amélia Camarano, 50, coordenadora da área de
População e Família do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada).
Dirce Koga, 38, pesquisadora do
Núcleo de Seguridade Social e Assistência Social da PUC-SP, destaca a diminuição da população nos
distritos paulistanos que têm alta
proporção de lares unipessoais.
Analisando os dados dos censos, são verificadas, de 1991 a
2000, quedas significativas da população total nos distritos com
grande concentração de unipessoais.
Segundo Koga, esse decréscimo
populacional mostra o êxodo de
famílias das áreas tradicionais. As
de baixa renda fogem do aluguel e
procuram um imóvel próprio na
periferia. As de altos rendimentos
migram em busca de segurança e
de qualidade de vida em condomínios de alto padrão.
Sérgio Lembi, 44, vice-presidente de Locação do Secovi-SP (sindicato das imobiliárias e construtoras), ressalta perfis diferentes do
chefe de domicílio unipessoal.
Nas áreas centrais antigas, como República e Sé, há moradores
de renda média e baixa, que ocupam kitchenettes e apartamentos
mais simples, sem garagem e área
de lazer. Na zonas oeste e sul, há
um perfil de maior poder aquisitivo e de demanda mais exigente.
Lembi destaca que na região
central se encontra um grande estoque de kitchenettes e apartamentos de um dormitório com
mais de 30 anos de construção. A
região tem grande oferta de imóveis para venda e locação. Os lançamentos de flats e lofts, moradias
unipessoais de alto padrão, são
encontrados em regiões como Vila Madalena, Jardins e Moema.
Dois perfis
Os moradores solitários podem
ser divididos em dois grandes
grupos. 1) Os que moram sozinhos em razão da viuvez e da saída dos filhos de casa. As mulheres
predominam nesse segmento,
pois têm expectativa de vida
maior e, em grande parte dos casos, não voltam a casar-se. 2) Grupos sociais mais jovens que, por
motivos diversos, não constituíram uma família tradicional.
"As pessoas de 60 anos ou mais
têm como referência o centro, onde há aluguéis mais baratos, infra-estrutura e comércio local", diz
Oliveira, do IBGE, com relação ao
primeiro grupo.
Ana Amélia Camarano, do Ipea,
lembra que a opção por morar só
está associada a uma condição
mínima de renda. As regiões centrais, por possuírem imóveis acessíveis, são pólos de atração para os
mais jovens que têm ambição de
ter um lar exclusivo.
Mas, além de aspectos puramente práticos e materiais, há o
componente comportamental,
mais difícil de equacionar. "Morar sozinho é um estado de espírito, e o centro possibilita isso", declara Raul Leite Luna, 63, presidente interino do Secovi-SP.
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