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EDUCAÇÃO
Para o proprietário da maior rede privada de ensino do país, número dos que podem pagar faculdade chegou ao limite
Ensino superior vive impasse, diz Di Genio
LUIZ CAVERSAN
DA REPORTAGEM LOCAL
Seja quem for, o novo presidente da República enfrentará um
"nó" na área da educação superior: o número de alunos não pára
de crescer, o tópico do plano decenal para o setor, que previa aumento de vagas na rede pública,
foi vetado e a quantidade de pessoas que podem pagar faculdade
particular -estimada em 1,8 milhão- chegou ao limite.
A avaliação é do proprietário da
maior rede privada de ensino do
país, João Carlos Di Genio, 63.
Di Genio, que começou sua carreira com um modesto cursinho
pré-vestibular nos anos 60 em São
Paulo, hoje responde por um
exército de 400 mil alunos, distribuídos por colégio, cursinho pré-vestibular e universidade. Numericamente, o Colégio Objetivo é o
maior do Brasil e a Unip (Universidade Paulista), a maior universidade, superando a USP.
Segundo Di Genio -cujas escolas empregam mais de 15 mil professores-, o setor privado de ensino está em crise, apesar de todo
o crescimento. Conforme diz, há
uma sufocante inadimplência:
um em cada quatro alunos não
estaria pagando a mensalidade.
Por conta disso, e também da
necessidade de atender à demanda de alunos que saem das escolas
públicas, ele defende o recadastramento das universidades particulares e a abertura de financiamento para o aluno por parte do
governo. Em entrevista à Folha,
ele também faz um balanço da
gestão FHC na área educacional e
aponta a falta de propostas dos
candidatos a presidente.
Folha - Qual é o saldo de oito anos
da política educacional do governo
Fernando Henrique Cardoso?
João Carlos Di Genio - Isso [existência de uma política educacional] ocorreu no Brasil pela primeira vez em 30 anos. Antes, ministro da Educação ficava um,
dois anos no máximo. O presidente e o ministro Paulo Renato
estabeleceram uma política educacional e acabaram com os "cartórios" do ensino superior, abrindo a concorrência entre as escolas
particulares. Se bem que, devido à
atual crise, acho que está na hora
de parar.
Folha - Apesar de oito anos da
mesma política, a universidade pública continua em crise.
Di Genio - O que há é problema
de verba. O Paulo Renato quis dar
mais, o plano decenal aprovado
no Congresso previa um mínimo
de 40% das vagas na rede pública
de ensino superior. Mas os ministérios da Fazenda e do Planejamento disseram que não dava, e o
presidente vetou. A situação do
país não permite.
Folha - Mesmo assim, o ensino
particular não pára de crescer.
Di Genio - Mas a inadimplência,
hoje, já passa dos 25%. E o crescimento, no caso do Objetivo, é resultado de uma política de muitos
anos. O cursinho começou em
1965, o colégio em 1970, e eu só
instalei faculdades onde havia colégio. Por que é a maior universidade? Porque já era o maior colégio. Quando houve a abertura do
ensino superior, já tinha as bases.
Mas o número de alunos que
podem pagar uma escola particular no Brasil é, na melhor das hipóteses, 1,8 milhão. Não vejo como esse número possa crescer.
Em 2010, haverá sete milhões de
alunos na faixa de 18 a 24 anos aptos para o ensino superior, mais
dois milhões fora dessa faixa etária. Dos três milhões existentes
hoje, teremos nove milhões. Mas
só 1,8 milhão podem pagar escola.
Como foi cortado o aumento de
vagas na escola pública, como é
que esses alunos vão fazer?
Folha - O excesso de oferta de vagas mais inadimplência não levam
à queda da qualidade nas faculdades particulares?
Di Genio - De fato, está sobrando
vagas, sim. O que pode acontecer
é cair o preço da mensalidade...
Folha - A queda de preço não
acarretaria queda de qualidade,
porque é a mensalidade que custeia material, laboratórios?
Di Genio - Tem outra saída: cursos sequenciais, com dois anos de
duração, podem absorver o excedente que virá da escola pública.
Folha - Mais uma vez vai significar perda de qualidade, não?
Di Genio - Esses cursos são mais
voltados para a empregabilidade.
As empresas ou sindicatos podem
ajudar o aluno a pagar. A graduação deve permanecer como está,
mesmo porque se você não mantiver professor em tempo integral,
não remunerar corretamente e
não fizer investimentos, a qualidade cai mesmo.
Pode-se pensar ainda no incremento do ensino à distância. Hoje, a lei permite 20% do currículo
em ensino à distância. Talvez se
possa ir para 40%.
Folha - O que o sr. tem a dizer a
respeito do provão e sobre o fato
de a maior parte dos cursos da Unip
ter recebido avaliação C em 2001?
Di Genio - O problema do provão
é que ele não vale para o aluno,
que só faz porque é obrigado, para tirar o diploma; responde qualquer coisa na prova e vai embora.
Veja o caso da USP. Há muitos
cursos lá que boicotam o provão.
O jornalismo da USP tira E todo
ano. A economia, a psicologia
também boicotam. Se existe boicote na escola pública, por que
não haveria na particular? O governo terá de colocar a nota no
currículo do aluno.
Outra coisa que precisa ser feita
é universalizar o Enem [Exame
Nacional do Ensino Médio]. Pelo
exame, você pode saber se o aluno
é A, B, C, D ou E antes de ele entrar na universidade. Depois, você
poderá saber o que aquela escola
fez com aquele aluno. Uma escola
que pegou o aluno E e o formou C
não é boa? É uma injustiça. Por isso acho que o provão precisa de
adaptações, como dimensionar o
valor agregado: saber que tipo de
aluno você pega e que tipo de aluno está saindo da escola.
Folha - A universidade pública,
mesmo em crise, responde pela
maioria das pesquisas no país. O
que a rede privada deixa de fazer?
Di Genio - Depois que o governo
criou a figura do centro universitário, ninguém mais quis abrir
universidade. Porque o centro
universitário não precisa fazer
pesquisa e nem precisa ter um terço dos professores em tempo integral, como a universidade. Essa
é a pergunta a ser feita: é bom para
o país só haver centros universitários? É hora de fazer um recredenciamento das universidades e ver
quem fez pesquisa, quem teve
stricto sensu aprovado na Capes
[Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior", quem investiu em laboratório etc. Na Unip aprovamos três
cursos e vamos aprovar mais cinco na Capes. Além do que, temos
um programa de pesquisas que
abrange 12 áreas.
Folha - O que é melhor negócio
hoje: faculdade, colégio ou cursinho pré-vestibular?
Di Genio - Colégio. O ensino superior vai parar de crescer. O colégio, não.
Folha - O que os presidenciáveis
estão deixando de discutir?
Di Genio - Tudo. Nenhum candidato está discutindo a educação.
A questão do financiamento, por
exemplo. O aumento de vagas na
rede universitária foi vetado, não
tem jeito. E os alunos que sairão
das escolas públicas e não tiverem
dinheiro, o que acontecerá com
eles? Vai ter que haver financiamento. Você ouviu algum candidato falar sobre isso?
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