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SAÚDE
Pesquisa mostra que praticar atividades físicas ajuda a retardar o aparecimento de problemas associados ao envelhecimento
Exercícios melhoram a vida de idosos
BRUNO LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
Praticar exercícios físicos regularmente pode ser uma alternativa não-medicamentosa para melhorar a memória e ajudar a retardar o aparecimento de problemas
associados ao envelhecimento. A
conclusão é de uma pesquisa do
Centro de Estudo em Psicobiologia e Exercício da Escola Paulista
de Medicina da Unifesp.
O estudo foi feito com 50 homens sedentários, de 60 a 75 anos,
considerados saudáveis. Metade
deles passou a praticar atividade
física, por períodos de uma hora,
três vezes por semana -os demais mantiveram suas atividades
normais. Uma bateria de exames
foi feita antes e após seis meses, e
os resultados foram comparados.
Testes físicos e neuropsicológicos mostraram que houve aumento da capacidade funcional
dos indivíduos, o que significa
mais autonomia e independência.
Após participar do programa,
os voluntários apresentaram melhora em funções cognitivas como a memória, o que indicaria recuperação ou retardamento de
processos degenerativos do cérebro. Além de benefícios como diminuição da pressão arterial e
melhora do desempenho cardíaco, foram descritos ganhos no humor, na auto-estima e na qualidade do sono. Levando em consideração vários fatores de risco de
problemas cardiovasculares, os
resultados mostraram ainda uma
diminuição média de 35% no risco de infarto.
"A surpresa foi que a idade não
representou um obstáculo", disse
a educadora física Hanna Karen,
responsável pela pesquisa.
Segundo ela, para a verificação
das mudanças, a idade não foi um
fator determinante, como se costuma pensar, mas a velocidade
dos ganhos variou de acordo com
o tempo de sedentarismo.
"Eu tinha me tornado dependente de um caderninho de anotações, mas voltei a ser uma pessoa normal", conta o engenheiro
civil Fábio Pardini, 67, que há cerca de dois anos começou a ter esquecimentos que passaram a
atrapalhar o seu trabalho. Ele diz
que acabou decidindo participar
da pesquisa da Unifesp justamente por ter aversão a neurologistas
e psicólogos.
"Foi muito bom não ter de tomar remédio, por isso me entusiasmei. Agora que aprendi a fazer, não vou deixar cair a peteca."
Pardini faz exercícios de alongamento e pedala três vezes por semana por cerca de meia hora na
bicicleta ergométrica.
Com o envelhecimento, há uma
diminuição da capacidade motora, do equilíbrio e dos reflexos.
Dos 30 aos 70, a perda de massa
muscular chega a cerca de 40%.
"A atividade física regular pode
compensar isso e ainda ajudar a
controlar ou a prevenir doenças
como osteoporose, hipertensão,
obesidade, depressão e diabetes",
afirma o geriatra Carlos André
Freitas dos Santos. O ideal seria a
prática do exercício em grupo, o
que ajuda a diminuir o tempo em
que a pessoa fica sozinha.
De acordo com Wilson Sanvito,
professor de neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, não há dúvidas de que o exercício melhora a
irrigação e a oxigenação do cérebro e libera neurotransmissores
(substâncias responsáveis pelo
funcionamento harmônico do cérebro), como a endorfina, dando
sensação de bem-estar e melhorando o humor.
No idoso, a plasticidade cerebral (capacidade de incorporar
novas conexões entre os neurônios) é menor. "O exercício não
forma novos neurônios, mas pode enriquecer as conexões entre
eles", diz Sanvito.
Para o neurologista, a melhora
da memória com o exercício é um
fato provável, mas necessita de
comprovação mais apurada.
"Um programa de atividade física, mesmo quando iniciado
após os 60, tem efeitos positivos
nas variáveis biológicas e psicológicas do indivíduo", afirma a médica esportiva Sandra Matsudo,
assessora científica do programa
Agita São Paulo.
Segundo ela, não é possível falar
em interromper o processo de envelhecimento, mas não é difícil diminuir as perdas e manter as habilidades por mais tempo.
"Com o tempo, o idoso vai perdendo a qualidade de movimento. Isso reflete diretamente na
qualidade de vida. Se ele não consegue nem amarrar o sapato, precisa que alguém faça para ele", diz
a educadora física responsável pela pesquisa.
Descompromisso
Uma das grandes vantagens da
atividade física praticada pelo
idoso é o descompromisso com a
estética, dizem os especialistas.
"A ginástica não é mais para ter
o corpo bonito. Sem o compromisso da estética, pode ser uma
prática bem mais gostosa", afirma
a presidente do Centro de Estudos
e Pesquisas sobre o Envelhecimento da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de
São Paulo), Alice Moreira Derntl.
Para o cardiologista Abrão José
Cury Júnior, presidente da Regional São Paulo da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, sempre há
uma atividade que pode ser feita
-mesmo para quem tem problemas de saúde. A questão estaria
em descobrir, com a ajuda do médico, qual a atividade adequada.
"O exercício é ótimo para o idoso.
Mas, antes de começar, é importante passar por uma criteriosa
avaliação médica", afirma.
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