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Jovens são soltos e policiais, afastados
Renato, 24, William, 28, e Wagner, 25, ficaram dois anos em cela superlotada acusados de violentar e matar garota
Justiça determinou liberdade cinco dias após "maníaco de Guarulhos" confessar morte; eles disseram que sofreram tortura para assumir crime
DA REPORTAGEM LOCAL
Após serem mantidos presos
por dois anos em uma cela superlotada sob a acusação de terem violentado sexualmente e
assassinado uma garota de 22
anos, Renato Correia de Brito,
24, o seu primo, William César
de Brito Silva, 28, e o amigo,
Wagner Conceição da Silva, 25,
deixaram às 15h40 de ontem o
CDP (Centro de Detenção Provisória) de Guarulhos (Grande
São Paulo).
Os três, que dizem só ter assumido o crime após serem torturados por policiais militares e
civis, foram soltos por decisão
da Justiça cinco dias depois de
Leandro Basílio Rodrigues, 19,
chamado pelos policiais civis
de "maníaco de Guarulhos", ter
admitido o assassinato de Vanessa Batista de Freitas, 22, ex-namorada de Renato.
Ontem, a gestão José Serra
(PSDB) anunciou o afastamento dos policiais envolvidos na
prisão: dois policiais militares e
quatro policiais civis (um delegado, um investigador, um escrivão e um carcereiro). Os nomes deles não foram revelados.
À época das prisões, a polícia
divulgou que Vanessa havia sido morta porque seu ex-namorado queria evitar uma ação judicial -para requerer pensão
alimentícia para o filho- e teria
contratado os outros dois para
"dar um susto" na moça.
Soltura
Os familiares foram aguardar
a saída dos jovens na porta do
CDP. "Obrigada, meu Pai, obrigado, meu Deus", gritava a mãe
de Wagner, Iraildes Alves Conceição. "Quero ver meu pai, minha mãe. Não tenho palavras.
Quero ver minha família. Sofri
demais", disse Wagner.
"A única coisa que eu quero é
sair daqui o mais rápido possível, abraçar o meu filho e dizer
que eu o amo. A única coisa que
eu posso dizer a vocês é que eu
não sou lixo. Sou ser humano
como qualquer um de vocês",
disse William aos jornalistas.
Renato preferiu o silêncio.
Órfão de pai e mãe, ele chorou
no ombro da namorada, Marlândia Nascimento Santos.
Os advogados afirmaram que
pretendem entrar com uma
ação por danos morais e materiais contra o Estado. Eles afirmam que os três jovens não tinham passagem pela polícia.
Os rapazes ainda irão a júri,
em data não definida, porque a
ação contra eles não foi extinta
com a ordem de soltura.
Em entrevista à TV Globo,
Angelina Batista de Freitas
Borges, mãe de Vanessa, afirmou que não acredita que o assassino de sua filha seja o "maníaco de Guarulhos". Já o pai de
Vanessa, o perueiro João Batista de Freitas Borges, disse que
não vai apontar culpados. "A
Justiça é quem deve julgar, não
eu. Pena que eles [os três soltos
ontem] passaram esse tempo
todo [na prisão]."
Ele contou que ficou surpreso quando Renato foi apontado
como um dos assassinos. "Eu
jamais achava que ele ia fazer
isso. Mas acreditei porque ele
mesmo confessou."
Empurra-empurra
A decisão da Justiça de soltar
os três rapazes provocou um jogo de empurra-empurra entre
o Ministério Público e o comando da Polícia Civil.
Em entrevista ontem ao lado
do secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, o delegado Marco Antonio Dario,
responsável pela Corregedoria
de Guarulhos, afirmou: "Não
estamos jogando a batata quente para ninguém, muito pelo
contrário. [...] Somados todos
os elementos, eu creio que o
Ministério Público, apreciando
toda aquela prova produzida,
talvez não tenha conferido a
devida valoração à alegação de
tortura", afirmou o policial.
Já o promotor Marcelo Alexandre de Oliveira, que apresentou a denúncia à Justiça,
disse que agiu de acordo com o
que recebeu da polícia.
(ANDRÉ CARAMANTE, ROGÉRIO PAGNAN e KLEBER TOMAZ)
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