|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para desembargador, rapazes deveriam continuar presos
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O desembargador Luís Soares de Mello, do Tribunal de
Justiça de São Paulo, afirmou
ontem ter plena convicção de
que, "com os elementos que
constam nos autos", os três jovens acusados pelo assassinato
de Vanessa Batista de Freitas,
22, deveriam continuar presos
e serem julgados.
Além da confissão de Renato
Correia de Brito -obtida pelos
PMs-, o desembargador cita
ainda que há outras provas que
constam dos autos: depoimento de uma testemunha, o fato
de o carro de Brito ter o escapamento furado -o que coincide
com o barulho ouvido por testemunhas que estavam perto
da cena do crime- e os contatos dele com a família da vítima
logo após ela desaparecer.
"Esse é um caso que, de zero
a dez, é prova [a qualidade da
prova] oito. A prova é tão boa
que eu considero, de zero a dez,
para mandar para júri é oito. E
para manter preso, dez. Porque
quando eu tenho elementos suficientes de autoria, materialidade, [e] a gravidade do crime é
evidente, aí eu tenho que manter na cadeia. Para manter na
cadeia, de um a dez, dez. Para
mantê-los pronunciados [ir a
júri], de um a dez, oito", disse.
Ao lado dos também desembargadores Euvaldo Chaib e
William Campos, Mello negou
em 8 de abril deste ano um pedido da defesa dos três acusados para que eles não fossem
submetidos ao Tribunal do Júri
e também deixassem a prisão.
No voto n.º 15.342, Mello fez
também um elogio ao trabalho
de investigação do caso: "A peça
inicial [inquérito policial], aqui,
é deveras minuciosa, até como
nem costuma ser em casos análogos", escreveu Mello.
Ao falar ontem à Folha sobre
as denúncias de tortura por policiais de Guarulhos, o desembargador disse que nada ficou
comprovado e que, caso tivesse
elementos sobre "sevícias" sofridas pelos réus, iria tomar as
medidas judiciais exigidas para
esses casos.
"Sevícia não existia nenhum
indício. Se houvesse algum indício, eu entregava o meu cargo
de juiz. Se eu perceber uma tortura dentro dos autos e não falar nada, sou um louco, um irresponsável. Porque sou juiz,
estou vendo tortura e não falo
nada. Evidentemente não vi,
mas, se existiu, não está nos autos. Em qualquer caso, todo réu
alega tortura, qualquer processo que você pegar e o réu confessou, ele vai alegar que foi seviciado, 90% das confissões."
Ao ser questionado se a recente confissão de Leandro Basílio Rodrigues, 19, chamado
pela polícia de "maníaco de
Guarulhos", é suficiente para
colocar os três presos anteriormente pelo crime em liberdade, o desembargador afirmou:
"Para mim, não! Confissão é só
um elemento de prova. Como é
que foi feita essa confissão? Eu
não sei o que ele disse, o que
mais tem. Não sei se ele é são,
se está confessando."
"Não dou nenhuma decisão
insegura, tenho mais de 16 mil
votos [decisões em ações judiciais] em 2ª instância, nenhuma insegura; nenhuma decisão
que eu dei, deixei de dormir
por causa dela. Você vai me
perguntar: "Faria tudo de novo?". Absolutamente, tudo de
novo. Mas se tivesse a confissão do maníaco? Eu precisaria
ver se ela está isolada, se ela
tem outro elemento de convicção. Por que ela vai baixar todas as outras provas que eu tenho aqui? É prova. Prova é uma
somatória de coisas."
Para o desembargador, não
há razão para suspender o julgamento dos três jovens, previsto para a próxima semana.
"Tem que ser [julgados], ainda
continuo achando isso. Porque
só um elemento de confissão lá
[do chamado "maníaco de Guarulhos"] é, para mim, um elemento apenas, contra todas as
evidências que estão aqui."
"Só acredito depois que se
comprovar. Deixa isso claro:
eu, como juiz, acredito no que
fiz aqui, acredito no que fiz
aqui. Aquela confissão, se não
houver outros elementos que a
confirmem... eu não sei se ele
[maníaco] está são, se tem certeza do que está falando, do que
está fazendo, se essa confissão
diz respeito a esse fato mesmo.
Porque ele diz que estuprou
um monte, está confessando
por atacado."
Texto Anterior: Todo preso diz que é torturado, afirma promotor Próximo Texto: Frase Índice
|