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DANUZA LEÃO
Você está viva?
Quando uma mulher e um
homem se vêem pela primeira vez, no mesmo instante se
acende uma faísca; é a pulsão da
vida.
la surge de uma imediata e inconsciente avaliação de parte a
parte, que acontece o tempo todo;
pode ser com o cunhado, o feirante, o padre, o marido da maior
amiga, e independe de beleza,
charme ou classe social.
Essa coisa não vai necessariamente se desenvolver em alguma
outra coisa, mas quanto mais intimidade você tiver com você
mesma -e com seus pensamentos- mais rapidamente vai perceber o que está acontecendo.
Mas é raro: a maioria das pessoas
não identifica o que sente, sobretudo porque essa avaliação passa
por uma fina peneira de censuras
mentais morais e sociais.
Ninguém está livre disso, desde
que o outro seja do outro sexo
-ou do sexo que lhe interessa. É
difícil botar em palavras sensações, mas tudo parte de uma faísca que é positiva ou negativa; se é
negativa, não se fala mais nisso.
Se é positiva e você está só - portanto com tempo e coragem para
brincar-, a fantasia pode ir longe. Se estiver tomando uma bebida, aí então ela é ilimitada.
Você já largou seu freio de mão
mental e deixou sua imaginação
correr frouxa? Vamos admitir: é
difícil. E as convenções sociais, e
os preconceitos, e o medo? Aprendemos que se peca até em pensamentos; com isso brecamos a
maioria deles e depois não sabemos por que nossa cabeça é um
nó. Mas se deixarmos eles correrem soltos será que as coisas ficam mais fáceis? Parece que sim.
No primeiro olhar se define se o
outro é ou não possível -se dá pé
ou não. A sensação não precisa
ser recíproca, mas, quando isso
acontece, é imediatamente percebida pelos dois. Estabelece-se então uma energia que faz com que
esse momento seja diferente de todos os outros. O olho brilha, o corpo fica tenso e você sente o prazer
supremo, que é o de se saber viva.
Para uns isso nunca acontece, e
não é uma questão de idade: existem jovens que não sabem nem
nunca vão saber do que se trata, e
por esses jamais alguém vai se interessar. Já outros na quinta idade, em seu leito de morte, se entrar uma enfermeira gostosa,
imediatamente a corrente se estabelece. Atenção: essa eletricidade
contagia, por isso tantos estão
sempre cercados enquanto outros
sofrem de um incurável desinteresse do sexo oposto. Pois é.
Alguns, mais corajosos, não só
têm consciência a cada vez que isso acontece como se deixam levar;
aí, correm o risco, que para a mulher é sempre maior. Um homem
que segue seu impulso e arrasta
com ele alguém de classe muito
inferior é sempre perdoado -até
porque eles sabem até onde devem ir e voltam logo para seu lugar de origem. Já mulher não pode; não dá para a madame ter um
caso com o motorista de caminhão porque ninguém vai aceitar. Fora que elas têm a mania de
se apaixonar, o que faz toda a diferença. Aliás, devem acontecer
muito mais coisas na vida de nossos amigos mais íntimos do que
podemos imaginar.
O tema é interessante; aliás, interessantíssimo. Fique atenta: já
percebeu que vai sempre à mesma
loja para ser atendida pelo mesmo vendedor e sempre ao mesmo
restaurante para ser servida pelo
mesmo garçom? Já pensou nisso?
Vale sempre a pena saber a
quantas a gente anda; se ainda
está viva ou se respira ligada nos
aparelhos, que são a educação, a
moral, a religião e os bons costumes. Sendo assim, por mais que
sua mulher seja um poço de virtudes e apaixonada por você, nunca
a deixe só com um homem, nem
mesmo com o dentista.
Homem e mulher, quando se
juntam, ninguém sabe o que pode
acontecer.
Esse é o perigo -e a graça- da
vida.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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