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SAÚDE
Cirurgia para miopia "falseia" pressão ocular
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
As cirurgias refrativas para corrigir a miopia podem falsear a
pressão intra-ocular e dificultar o
diagnóstico precoce do glaucoma,
doença causada pelo aumento da
pressão no globo ocular, que prejudica o nervo ótico e causa perda
da visão. Só no ano passado foram feitas 300 mil cirurgias refrativas no país.
Segundo oftalmologistas, a
pressão ocular elevada é o principal fator de risco para o glaucoma,
doença que atinge 900 mil brasileiros e é a segunda maior causa
de cegueira, conforme o Conselho
Brasileiro de Oftalmologia. Com a
cirurgia, a pressão pode parecer
menor do que realmente é.
Por exemplo: com a cirurgia,
um exame pode mostrar uma
pressão de 14 mmHg (milímetros
de mercúrio), apesar de ela ser de
22 mmHg -nível que pode ser
indicativo de glaucoma.
Isso acontece porque a córnea,
depois da cirurgia refrativa, fica
mais fina, e o tonômetro (aparelho que mede a pressão intra-ocular) é calibrado para uma espessura de córnea normal, induzindo,
assim, a um erro de medida.
Segundo os oftalmologistas, para cada 50 micra (medida equivalente a um milésimo de milímetro) retiradas da espessura da córnea, reduz-se cerca de 2,5 mm na
mensuração da pressão intra-ocular.
Além da medida da pressão
ocular, os oftalmologistas utilizam para o diagnóstico da doença
o exame do campo visual e do
nervo ótico.
Segundo Ricardo Uras, 58, professor da disciplina de oftalmologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o ideal é que o
médico seja sempre informado de
que o paciente realizou uma cirurgia refrativa.
Geralmente, as cirurgias a laser
não deixam cicatriz no interior do
olho e, se não for avisado sobre o
procedimento, o profissional pode ignorar o fato de estar diante
de uma pressão ocular "falseada".
"Muita gente fica tão aliviada de
não precisar mais usar óculos que
esquece da cirurgia e nem se lembra de relatá-la ao médico", afirma Uras.
Segundo o oftalmologista Augusto Paranhos, 32, chefe do setor
de glaucoma da Unifesp, sabendo
que o paciente operado geralmente tem uma medida de pressão intra-ocular hipoestimada, ou
seja, menor do que na verdade é, o
médico deve ficar mais atento aos
outros exames que podem caracterizar o dano do glaucoma. "Esses exames são, inclusive, mais
importantes que a medida da
pressão em si", afirma.
Paranhos afirma ainda que, embora a pressão não seja o único fator de risco para o glaucoma, diminuí-la, seja por meio de medicamento, laser ou cirurgia, ainda é
a única forma efetiva de controlá-la, mesmo nos pacientes com
glaucoma em que os níveis de
pressão não estejam elevados.
Para o oftalmologista Rubens
Belfort, 55, só uma pressão ocular
elevada não indica o glaucoma.
"Uma pessoa pode ter pressão
considerada alta e não apresentar,
enquanto outra, com pressão
normal, pode ter a doença."
Por isso prevenir ainda é o melhor remédio. Segundo o oftalmologista Newton Cara José, professor titular da Faculdade de Medicina da USP-SP, todas as pessoas
acima de 40 anos deveriam consultar anualmente um oftalmologista para avaliar a pressão intra-ocular e as condições da retina.
Catarata
Rubens Belfort afirma que a cirurgia refrativa também altera a
medida da córnea. Por isso, antes
da operação, o médico deve registrar a medida ocular e informá-la
ao paciente.
Em uma futura cirurgia de catarata, por exemplo, parte do cálculo da lente intra-ocular que será
colocada no paciente deriva de
medidas corneanas que ficaram
alteradas após a cirurgia refrativa.
"Sem saber quanto era essa medida anterior à cirurgia de miopia,
pode acontecer de o paciente operar-se da catarata e ter de usar
óculos de grau forte depois", afirma Belfort.
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