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ENTREVISTA
ANATOMIA
Corpos podem ser estudados
"Pessoas devem doar seus cadáveres em vida"
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O médico anatomista Liberato
Di Dio, 81, é o mais novo membro
honorário da American Association of Anatomists, a mais importante entidade de anatomia. O título será concedido neste mês.
Di Dio, que lecionou na USP e
hoje coordena o Departamento
de Anatomia da Universidade de
Santo Amaro (Unisa), foi professor, diretor e pró-reitor em cinco
diferentes universidades americanas. Entre 1940 e 2000, publicou
370 trabalhos sobre anatomia e
orientou 88 teses de mestrado e
doutorado, metade no Brasil e
metade nos EUA. Ao longo de 12
anos, entre 79 e 92, foi eleito como
o anatomista de maior destaque
pelo Simpósio Internacional de
Ciências Morfológicas.
Foi secretário-geral da Comissão Federativa Internacional que
elaborou a última Terminologia
Anatômica, com todos os nomes
do corpo humano. Entre seus livros estão "Tratado de Anatomia" e "Tratado de Anatomia Sistêmica Aplicada" (Editora Atheneu). É co-autor de um cd-rom
que mostra o aparelho locomotor
em movimento, a ser lançado.
Di Dio defende a idéia de que as
pessoas, em vida, doem seus cadáveres para serem dissecados e
estudados nas escolas médicas.
Folha - Por que doar cadáveres?
Liberato Di Dio - Nos EUA, muitos dos cadáveres dissecados nas
escolas médicas foram doados
pelas pessoas, em vida. Os doadores, no geral, são pessoas de classe
média, muitas com nível superior, que também autorizam o
uso de seus prontuários médicos.
Quer dizer, quando um cadáver é
aberto, o aluno sabe quais doenças teve, os possíveis acidentes
que sofreu e os tratamentos aos
quais foi submetido, ampliando
as possibilidades de aprendizagem. No Brasil, os alunos das faculdades de medicina estudam
com cadáveres de indigentes, não
sabemos nada sobre a história
médica daquele corpo.
Folha - O senhor iniciou uma campanha assim na Unisa?
Di Dio - Em uma semana, 46 pessoas escreveram oferecendo para
doar seus corpos, a maioria com
nível superior. Por questões de legislação, a campanha foi temporariamente interrompida. No
Brasil, as escolas de medicina não
têm cadáveres suficiente. O ideal é
que a cada quatro estudantes haja
um cadáver para ser estudado. Isso está longe de acontecer.
Folha - O que leva uma pessoa a
doar seu cadáver?
Di Dio - Reuni um banco com
4.000 doadores de cadáveres na
minha faculdade, nos EUA. Um
doou porque tinha se curado de
um câncer e queria oferecer sua
contribuição. Outro porque perdeu um filho. Pretendo reunir essas cartas em um livro.
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