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NOVOS ANDARILHOS
Desde julho de 94, passagens de ônibus em 8 capitais subiram até 62% acima da inflação, expulsando passageiros
Tarifa alta cria os excluídos do transporte
ALENCAR IZIDORO
SIMONE IWASSO
DA REPORTAGEM LOCAL
As tarifas dos ônibus urbanos
no país subiram acima da inflação
nos últimos nove anos, num fenômeno que tem expulsado as classes mais baixas do acesso aos
meios de transporte coletivo.
Levantamento da Folha em oito
capitais aponta que, desde a implantação do Plano Real, em julho
de 1994, todas elevaram os preços
dos coletivos entre 28,7% e 62,2%
acima da variação do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor). Em seis delas, a passagem
atual é, no mínimo, 48% superior
àquela que seria cobrada se ela
acompanhasse a inflação. O INPC
é calculado pelo IBGE visando
orientar os reajustes salariais dos
trabalhadores -aponta variações dos custos de quem ganha de
um a oito salários mínimos.
Em São Paulo, a passagem de
ônibus nesse período subiu 240%
-de R$ 0,50 para R$ 1,70. Caso
seguisse a inflação, que acumulou
164,15%, ela deveria custar hoje
perto de R$ 1,32. A mesma situação se repete com a tarifa de metrô. O bilhete unitário passou de
R$ 0,60 para R$ 1,90, um reajuste
de 216,7%. Pela variação do INPC,
deveria custar agora R$ 1,58.
A justificativa de empresários e
governos para esses aumentos é a
elevação do preço dos insumos do
transporte e a queda da demanda.
Formou-se um ciclo vicioso: a população de baixa renda deixa de
andar de ônibus porque a tarifa é
cara, a tarifa sobe porque a quantidade de usuários não pára de
cair e acaba expulsando ainda
mais gente dos coletivos.
Nas principais capitais, a queda
média de usuários de ônibus de
julho de 1994 para cá foi de 24%.
Em São Paulo, já descontados os
que migraram dos ônibus para as
lotações, 2 milhões de viagens
diárias deixaram de ser computadas no transporte público -eram
163 milhões de passageiros mensais há oito anos, contra menos de
99 milhões na média de 2003.
Parte da migração é atribuída
aos que aderiram ao transporte
individual e à rede metroviária,
mas, segundo especialistas, a
maioria deixou de usar os coletivos por razões financeiras.
"A renda média do usuário de
ônibus é próxima de R$ 400 por
mês. Se fizer duas viagens por dia
[ida e volta do trabalho], gastará
15% de seu salário com transporte. Se fizer quatro, gastará 30%",
exemplifica Jaime Waisman, professor da USP, citando pesquisas
que apontam um perfil desses
passageiros na capital paulista.
Dois estudos divulgados nos últimos três meses, do Itrans (Instituto de Desenvolvimento e Informação em Transporte) e do Ipea
(Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada), órgão ligado ao Ministério do Planejamento, apontaram que as classes D e E estavam
deixando de usar os meios de
transporte motorizados para andar a pé ou de bicicleta.
Segundo uma pesquisa do governo federal concluída em 2002,
esse segmentos, com renda familiar de até R$ 496, eram 45% da
população, mas, em cinco grandes centros, somavam apenas
27,5% dos usuários de ônibus.
Em 2002, estudo da Associação
Nacional de Transportes Públicos
apontou que, das 204 milhões de
viagens diárias no país (distâncias
superiores a 500 m), 43,6% eram
feitas a pé e 7,4%, de bicicleta.
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