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TERCEIRO SETOR
Após afastamento, membros de associação criam dissidência para continuar trabalhando em hospital
HC enfrenta "racha" entre voluntárias
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Na manhã de um sábado, a professora aposentada Tereza Lopes
Carreño, 70, recebeu um envelope
com o timbre da Associação das
Voluntárias do Hospital das Clínicas de São Paulo. Membro há 15
anos da cinquentenária entidade,
ficou curiosa. "Pensei que era um
convite para alguma festa."
"Por motivos de não-cumprimento das normas de conduta
das voluntárias (...), cujo conteúdo é de seu conhecimento, queremos agradecer o período que esteve conosco (...). Todavia não necessitamos mais de sua colaboração", dizia a carta.
"O hospital era a minha vida",
afirma Carreño, que trabalhava
na área de neurologia. "Nunca recebi uma advertência. Uma vez,
pediram que não usasse um par
de brincos."
O caso é um dos que fomenta
um "racha" no voluntariado do
maior hospital da América Latina.
Os primeiros casos relatados são
de 2000. Abaixo-assinados correm pela unidade desde julho,
apontando ausência de justificativa na exclusão de pelo menos seis
voluntários e que parte dos integrantes está "amedrontada". Médicos providenciam novos crachás para quem já não pode usar a
identificação, uniforme cor-de-rosa e a braçadeira do corpo oficial. Alguns dos afastados formam agora uma dissidência, uniformizada de branco.
"É uma injustiça contra pessoas
que trabalham aqui há mais de
quinze anos. Isso gerou uma cisão
do voluntariado que é absurda. O
que as voluntárias podem produzir é muito", afirma Leontina da
Conceição Margarido, professora
assistente do Departamento de
Dermatologia.
A superintendência do hospital
informou que, como a associação
tem estatuto próprio, é independente, não interfere na situação.
Em carta à superintendência, a diretoria não apresentou os motivos dos afastamentos.
Fundada em 1947 por mulheres
de médicos, para suprir o déficit
de pessoal, a associação é dominada por senhoras de classe média, elegantes, que transitam pela
unidade com enxovais, material
de higiene e doações para pacientes necessitados, além de acompanhar pacientes fragilizados e ajudar a organizar filas. Hoje a associação reúne 292 pessoas.
Palmira Licciardi, voluntária há
mais de 30 anos, era responsável
pelo voluntariado do Pamb (Prédio de Ambulatórios). Com os filhos já adultos, passava praticamente a semana toda na unidade.
Antes do início dos afastamentos,
conta que tinha visto a expulsão
de apenas dois voluntários -um
que usava o hospital para fazer
campanha a vereador e outro que
discutia com pacientes.
Chamada em julho a comparecer à sala da diretoria da associação, Licciardi foi convidada a entregar o crachá. "Não entendi nada", afirma. Duas outras senhoras
assumiram a coordenação do
prédio. Com avental branco, ainda presta serviços na neurologia.
"É uma dor moral, um buraco
na alma", diz Béria Rocha (não revela a idade), outra das voluntárias que migrou para o grupo de
branco, após ser afastada em
2000. Depois de convidada a integrar a associação como vice-presidente, foi excluída repentinamente, afirma. "Aqui o idosos são
produtivos. Mas agora, de repente, são colocados de lado."
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