São Paulo, quarta-feira, 05 de outubro de 2011

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O homem da noite

Oscar Maroni, dono do extinto Bahamas, se denomina empresário do erotismo e diz ser perseguido por promover diversão masculina

Fabio Braga-7.jul.2011/Folhapress
Oscar Maroni Filho em saguão de hotel

LAURA CAPRIGLIONE
DE SÃO PAULO

De Bruna Surfistinha à prostituta Vivian, personagem interpretado por Julia Roberts no filme "Uma Linda Mulher", a juíza Cristina Ribeiro Leite citou vasto repertório pop na sentença em que condenou a 11 anos e oito meses de reclusão o autodenominado "empresário do erotismo", Oscar Maroni, dono do balneário Bahamas.
Cabe recurso, a ser julgado pelo Tribunal de Justiça. Casa de fama nacional, onde dia e noite, todos os dias, até 2007, quando foi fechado, dezenas de lindas mulheres faziam seus "programas", o Bahamas tornou-se símbolo da prostituição de luxo na cidade de São Paulo.
No material promocional, o lugar era chamado de "o maior centro de terapia empresarial da América Latina", referência à clientela seleta, que chegava em carrões importados ao endereço coberto de mármores, localizado em Moema (zona sul de SP).
Datada de 30 de setembro, a sentença foi divulgada na noite de segunda-feira. A pena envolve os delitos de manutenção de local destinado a encontros libidinosos, favorecimento à prostituição (indução ou atração) e facilitação do meretrício.
Maroni cobrava R$ 69 (o número é esse mesmo) por hora passada em uma das 23 suítes de intensa rotatividade à disposição da clientela. A juíza fez as contas: uma diária custaria 24 vezes R$ 69, ou R$ 1.656, "dignos do Ritz de Paris, para um quarto onde abundam espelhos e faltam armários!!! Seguramente, sem as 'lindas garotas de programa' não haveria clientela perdulária para [...] justificar o preço."
Mas Maroni recusa a pecha de proxeneta. "Sou apenas um empresário que está sendo perseguido por trabalhar no ramo da diversão masculina. O Bahamas nunca ficou com um só centavo do que as moças auferiam como prostitutas", afirma Maroni. Segundo ele, o local era aberto a homens e mulheres em busca de "lazer adulto". "Se alguém queria fazer programas, tratava privadamente com seus clientes. A casa não tinha participação alguma nisso."

DOCE VENENO
Mas a juíza não entendeu assim. "Se o Bahamas não é uma casa de prostituição, o que seria uma casa de prostituição?", repete ela várias vezes ao longo da sentença.
A juíza cita a prostituta-celebridade Bruna Surfistinha, que em seu livro "O Doce Veneno do Escorpião" assim descreve o Bahamas, onde ela, entretanto, nunca trabalhou: "De bom gosto, elegante mesmo. Por fora, você nem se toca do que é lá dentro. As garotas que vi por lá não tinham nada de anormal, não tinham p... estampado na testa nem ficavam na porta se oferecendo a quem passasse", relata o livro.
O trecho do livro é a deixa para a juíza concluir: "Ora, se uma prostituta não sabe o que é uma casa de prostituição, então quem saberia? Francamente, da mesma forma que um médico sabe o que é um hospital, um juiz sabe o que é um tribunal e um engenheiro sabe o que é uma obra, uma prostituta sabe o que é um prostíbulo", afirma a magistrada.
Para Maroni as coisas são mais complexas: "É claro que no Bahamas havia prostitutas exercendo seu ofício, mas em qualquer hotel da cidade, ou boa casa noturna também há; e nem por isso se diz que sejam casas de prostituição. Tudo o que o Bahamas recebia eram os valores referentes ao consumo de seus clientes. E ponto", diz Maroni.
Na sentença, a juíza afirma que a casa facilitava a prostituição ao oferecer clientela pré-selecionada para garotas de programa. "Ali as prostitutas realizavam seus programas sem necessidade de sair da casa e se expor aos perigos da noite na companhia do desconhecido."
Para Maroni, "a casa era aberta a elas, como a qualquer pessoa". "Parece até que a juíza preferiria que as moças ficassem ao relento."


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