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DANUZA LEÃO
O ser humano não falha
O programa Fome Zero está
dando tanta confusão que
até eu, que não tenho nada com
isso, vou me meter.
Fico pensando nos paupérrimos
habitantes que vemos em fotos
nos jornais, recebendo R$ 50 por
mês. É pouco? Menos do que pouco: é pouquíssimo. Mas, para
quem não tinha nada, já é alguma coisa.
Só que quem recebe R$ 50 para
não fazer nada vai continuar não
fazendo nada e não aprende a lição: que, para se tornar um cidadão de verdade, é preciso
trabalhar.
Mas trabalhar em que, se em alguns desses municípios nem água
existe? Imagino que, para furar
um poço, sejam necessárias máquinas, mas mesmo assim algum
trabalho humano deve ser preciso. Para receber esse dinheirinho,
essas pessoas deveriam ter a obrigação de prestar algum serviço, tipo ajudar a furar o poço, organizar para que uma das mães tome
conta das crianças enquanto as
outras vão para a roça, plantar
umas árvores (as que quiserem,
do jeito que quiserem) nas cidades em que houver água ou onde
passe um rio, varrer as ruas nas
que sofrem da seca -enquanto a
água não chega-, cuidar de um
galinheiro (o que não é tão difícil
assim) e outras coisas que não me
ocorrem porque eu não trabalho
no Fome Zero, mas que quem trabalha deve saber.
Assim começaria a se estabelecer o vínculo trabalho/remuneração, e como não vai dar para
pagar um salário mínimo para
cada pessoa, essa prestação de
serviços poderia ser de algumas
horas por dia.
Para quem vive na mais absoluta miséria, R$ 50 podem resolver
muitos problemas; mas, como o
ser humano não falha, o rico, o
pobre e o miserável, suprindo
suas necessidades e sabendo que
no fim do mês o dinheiro vai pingar, não vão, jamais, fazer nenhum esforço para melhorar de
vida. Nem sabem como, alguém
tem que ensinar.
Fome Zero, sim, mas, como não
estamos no Iraque, uma contrapartida para receber o dinheiro
no final do mês. Diante de tanta
miséria, pode parecer absurdo,
mas o assistencialismo do governo está dando uma má lição a essas pessoas. Se sem precisar se mexer, no fim do mês, o dinheiro vai
pingar, quem vai querer fazer alguma coisa?
Seria preciso que, em cada um
desses municípios, houvesse alguém para ajudar a organizar.
Em toda cidade pequena existe
alguém que, mesmo sem ter estudado, tem iniciativa e conhece os
que podem ajudar.
Eu às vezes me sinto ridícula falando de coisas que não conheço,
mas, se um adolescente tiver a
obrigação de zelar pela limpeza
de algumas ruas da cidade -e
plantar umas árvores e fizer um
jardinzinho- para poder levar
um dinheirinho para casa no final do mês, ele estará aprendendo
muita coisa, além de se alimentar
melhor. Na fazenda de qual político estão as máquinas que furaram os poços do deputado Inocêncio Oliveira?
No meu sonho -que é infinito-, as cidades do interior
do Brasil poderiam transformar-se, cada uma com as suas
características próprias, para não
serem mais aquela imagem de desolação.
O Unicef não tem seus embaixadores? Pois o Fome Zero também pode ter os seus -que, aliás,
não precisam ser do PT- escolhidos em cada cidade. Quantas
pessoas que passam os dias sem
ter o que fazer não gostariam de,
orgulhosamente, ostentar esse
título? O PT, que gosta tanto de
uma reunião, poderia fazer uma
grande, com a presença de Lula,
para explicar o que pretende
deles.
E, de quebra, começar a falar
sobre o planejamento familiar, tema que nunca, jamais, em nenhum momento, foi mencionado
pelos petistas, nem durante a
campanha nem depois da eleição
ganha.
Por que o tabu? Com todo o respeito, é a Santa Madre Igreja que
não deixa? Mas ela também é
contra a camisinha, e o governo
botou uma campanha na rua incentivando o seu uso durante o
Carnaval.
Não dá para entender.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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