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AMBIENTE
Mesmo após o vazamento que poluiu rios em Minas e no Rio, a Indústria Cataguazes de Papel mantém apoio na cidade
Morador e Ibama são contra fechar empresa
PAULO PEIXOTO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CATAGUASES
Apesar dos danos causados pelo
acidente ambiental na Indústria
Cataguazes de Papel, ocorrido há
oito dias, moradores e representantes de órgãos governamentais
em Cataguases defendem o não-fechamento da empresa.
O principal argumento é o impacto social e econômico que a
demissão dos 350 funcionários da
empresa causaria à cidade, de cerca de 63 mil habitantes. Ficariam
sem renda cerca de 1.400 pessoas
que se beneficiam diretamente da
empresa e cerca de mil outras que
vivem indiretamente dela.
Os funcionários da indústria temem o desemprego por causa de
supostas punições à fábrica, como
interrupção das atividades ou o
fechamento dela por inviabilidade financeira decorrente de uma
eventual multa elevada.
Os empregados defendem os
patrões, Felix Luis Santana Arencibia e João Gregório do Bem
-ambos com prisão decretada
pela Justiça Federal-, e acusam
os antigos donos da indústria (o
grupo Matarazzo) pela acomodado indevida do rejeito tóxico que
vazou da barragem, poluindo rios
em Minas e no Rio de Janeiro.
José Roberto Castro, 36, condutor de máquinas na empresa desde 1986, não se conformava com a
presença da Polícia Federal na indústria, na quinta-feira, para tentar prender os donos da empresa,
que estão desaparecidos. "A indústria não produz mais nada tóxico. Isso é injusto."
José do Carmo da Silva Vitório,
45, trabalha desde os dez anos de
idade na empresa, quando ela
ainda era Companhia Mineira de
Papel. Atualmente ele controla o
serviço de carga e descarga. Seu filho Tiago, 20, também trabalha lá
há três meses. "Essa fábrica já foi
nossa. Vendemos para os atuais
donos, mas ainda trabalhamos
como se fosse nossa. Se fechar, para onde vamos?"
Quando o grupo Matarazzo fechou a empresa, no final dos anos
80, após uma série de problemas
também ambientais, os empregados ganharam a então indústria
de celulose na Justiça, como pagamento pelo passivo trabalhista
deixado. A fábrica ficou dois anos
desativada -de 1992 a 94. Após a
batalha na Justiça, os funcionários
venderam a empresa para os
atuais donos, com deságio de 55%
e em 36 parcelas. Cada um recebeu o proporcional ao tempo de
trabalho. "Recebi pouco mais de
R$ 6 mil", disse Vitório.
Os funcionários tiveram o apoio
do Ibama (Instituto Brasileiro do
Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis) e da Delegacia Regional do Trabalho.
Carlos Calazans, delegado do
Trabalho, disse que lutará pela
manutenção da fábrica. Segundo
ele, desde 1995, a fábrica foi autuada oito vezes -três autuações
trabalhistas e cinco por condições
de segurança do trabalho.
O chefe do escritório do Ibama
em Juiz de Fora, Aurélio Augusto
de Souza Filho, é contra o fechamento da fábrica, embora tenha
dito que o órgão não abre mão da
punição para os donos. "Não
identificamos necessidade de embargar a empresa, pois não existe
processo contínuo de poluição."
Ele disse que a Cataguazes Papel
não é a responsável pelo vazamento, embora a Cataguazes Florestal, que cuida das barragens,
tenha os mesmos donos.
Souza Filho disse que o Ibama
suspendeu a multa de R$ 50 milhões aplicada em comum acordo
com a Polícia Florestal do Rio e
que um novo valor será definido
após o levantamento completo
dos prejuízos.
Os governos federal e estadual
já avisaram que não abrem mão
da aplicação da lei ambiental, embora estejam pensando nos empregos. Mas como combinar as
duas coisas eles ainda não sabem.
Tratamento
A Feema (Fundação Estadual de
Engenharia de Meio Ambiente)
liberou a captação de água dos
rios Pomba e Paraíba do Sul em
cinco municípios do noroeste fluminense para tratamento. A Cedae (Companhia Estadual de
Águas e Esgotos) começa hoje a
captar a água que abastece Miracema, Santo Antônio de Pádua,
Aperibé, Cambuci e São Fidélis.
Após ser tratada, a água será analisada pelo laboratório estadual
Noel Nutels e, se aprovada, começará a ser distribuída amanhã.
A irrigação, a pesca e a utilização da água dos rios para que animais a bebam continua proibida.
(COLABOROU TALITA FIGUEIREDO, DA SUCURSAL DO RIO)
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