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Moradores temem novo vazamento
DO ENVIADO ESPECIAL
Com medo de o lençol freático
estar contaminado pelos resíduos
industriais da Ingá Mercantil, os
moradores da ilha da Madeira
evitam furar poços artesianos.
Eles são obrigados a comprar
água de caminhões-pipa quando
o fornecimento é interrompido.
Outra problema enfrentado pela comunidade é a desvalorização
dos imóveis. Em uma área à beira-mar, que deveria ser valorizada, uma casa de três quartos pode
custar menos de R$ 15 mil.
O militar reformado Carlos
Reis, 58, conta que já pensou várias vezes em deixar a localidade,
mas não consegue comprador para sua casa. Ele mora a cerca de
300 metros da entrada principal
da fábrica desativada.
Reis afirmou que vive atemorizado. "Todo mundo aqui tem medo, mas vamos fazer o quê? É um
perigo. Uma vez, o lago vazou.
Matou todo o mangue. O veneno
foi para o mar. Um desastre ecológico horrível", disse ele.
Desaparecimento
Radicado na região desde criança, o jardineiro Reginaldo da
Conceição, 30, conta que, por
causa da contaminação por metais pesados, não há mais quase
caranguejos no mangue.
"As famílias que viviam da pesca do caranguejo tiveram que arrumar outra ocupação", disse ele.
Além dos caranguejos, desapareceram do mangue e das proximidades várias espécies de peixe.
As ostras, antes abundantes, também rarearam.
O marceneiro Paulo Cid, 58, tinha na extração das ostras uma
fonte de renda adicional. Hoje,
para conseguir um dinheiro extra,
vende refrigerantes e frutas no
cais da ilha da Madeira.
"A pesca foi muito afetada por
aqui. O pescador, que antes tinha
fartura perto, tem que ir longe para encontrar peixe bom", afirmou
o morador.
A balconista Neiva da Silva, 35,
mora a 500 m da fábrica. Ela conta
que, toda vez que chove, reza para
que a barragem não estoure.
"Se a água vazar, vou ter que ir
embora daqui. O problema é que
não tenho para onde ir. Não quero virar favelada no Rio", disse
Neiva da Silva.
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