|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Barragem abandonada ameaça baía de Sepetiba
SERGIO TORRES
ENVIADO ESPECIAL A ITAGUAÍ (RJ)
Com cerca de 50 milhões de litros de água contaminada por
metais pesados armazenados de
maneira precária, uma barragem
abandonada há oito anos ameaça
a baía de Sepetiba, um dos pontos
turísticos mais interessantes do
Estado do Rio.
O "lago" fica a 70 km do centro
do Rio, no município de Itaguaí.
Está dentro do terreno de 35 hectares (o equivalente a 35 campos
de futebol) da Companhia Mercantil e Industrial Ingá, que faliu.
Ao lado da barragem há um dos
manguezais da baía, antes ricos
em vida marinha. Em 1996, após
um temporal, o dique rompeu, e
os rejeitos industriais alcançaram
o mar. O desastre ambiental é até
hoje lamentado na região. A barragem é semelhante à que rompeu em Cataguases (MG).
A atual situação do reservatório
da Ingá lembra a de 1996. A barragem está cheia. Se chover, prevêem ambientalistas, o dique poderá arrebentar, e o acidente
ocorrido há sete anos se repetirá,
em proporções até maiores.
"O entorno do "lago" já está todo
contaminado. Se romper aquele
dique, como em 1996, ninguém
vai mais pescar na área. Você não
vai mais recuperar a baía de Sepetiba", disse à Folha o engenheiro
químico José Roberto de Souza
Araújo, funcionário licenciado da
Feema (Fundação Estadual de
Engenharia do Meio Ambiente).
Uma montanha de resíduos de
minério, principalmente zinco e
cádmio, ladeia a barragem. Quando chove, o material escorre para
dentro do "lago", o que causa o
aumento de seu volume.
Para o biólogo Mário Moscatelli, a barragem da Ingá é "uma
bomba-relógio que um dia vai explodir". "O problema é gravíssimo. Só um dique isola a barragem
da baía e dos manguezais", disse.
A Ingá é uma espécie de fábrica
fantasma. As instalações estão
abandonadas. Os dois tanques de
filtragem não funcionam. Só há
algum movimento na portaria,
onde três vigilantes dão plantão.
A indústria foi montada na década de 50 na ilha da Madeira, então um paraíso ecológico. Hoje, a
ilha existe apenas no nome da localidade. Aterros juntaram a Madeira ao continente.
Durante quatro décadas a Ingá
produziu lingotes de zinco para
exportação. Os rejeitos líquidos
eram depositados sem tratamento na baía de Sepetiba.
Com a pressão dos ecologistas,
após 30 anos de funcionamento
foram construídos dois tanques
de filtragem e uma estação de tratamento. Já era tarde. Pesquisas
da Universidade Federal do Rio
de Janeiro indicaram, em 1983,
que os manguezais estavam contaminados por metais pesados.
Secretário de Meio Ambiente
no governo petista de Benedita da
Silva (abril-dezembro de 2002),
Lizt Vieira disse que chegou a estudar a contratação de uma empresa para a limpeza do local, mas
o projeto não foi adiante.
Já a secretária de Meio Ambiente de Itaguaí, Maria Tereza Fagario Filho, critica Estado e União
por não solucionar um problema
ambiental de quase 50 anos.
"Não temos poder de polícia. O
que tínhamos de fazer, com encaminhamentos às autoridades estaduais e federais, fizemos. Se a
gente não tem resposta ou providência, a gente fica limitado. Solução tem. Dá para recuperar a área.
Mas quem vai assumir esse trabalho, quem vai investir? Nós temos
limitação financeiras", disse ela.
O Ibama formou em 2002 um
grupo de trabalho para estudar o
caso da Ingá. Por causa do acidente em Minas Gerais, o coordenador do grupo, Nilvo Alves da Silva, não poderia falar sobre o assunto. O empresário Flávio Barreto, que presidiu a indústria até a
falência, não foi localizado.
Texto Anterior: Altino, 35, não sabe o que fazer Próximo Texto: Moradores temem novo vazamento Índice
|