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Brasileiro ignora doença que mais mata
Pesquisa mostra que população não conhece o AVC, doença que no ano passado matou cerca de 30 mil pessoas no país
Pessoas confundem o acidente vascular cerebral até mesmo com câncer; desconhecimento prejudica prevenção e tratamento
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Os brasileiros não conhecem
a doença que mais mata no país
e mais deixa inválidos permanentes. Segundo um estudo publicado no início do ano na revista científica "Stroke", 90%
dos brasileiros dizem não ter
nenhum tipo de informação sobre o AVC (acidente vascular
cerebral), o que atrapalha a
prevenção e o tratamento.
Popularmente conhecido
por derrame, o tipo mais comum ocorre quando coágulos
entopem vasos que levam sangue à cabeça e, como conseqüência, danificam partes do
cérebro responsáveis por funções do corpo como a respiração ou a locomoção.
Segundo dados do Ministério
da Saúde, cerca de 168 mil pessoas foram hospitalizadas no
Brasil no ano passado em decorrência de AVCs. Dessas, perto de 30 mil morreram.
Para o estudo publicado na
"Stroke", pesquisadores entrevistaram 800 pessoas de diferentes níveis sociais nas ruas de
São Paulo, Salvador, Fortaleza
e Ribeirão Preto. Desse grupo,
só 15,6% conseguiram dizer o
significado da sigla AVC e
26,5% sabiam que o médico indicado para tratar a doença é o
neurologista.
Confusão
Levam ao AVC problemas
como pressão alta, tabagismo,
sedentarismo, obesidade, diabetes, problemas cardíacos,
maus hábitos alimentares, colesterol alto e estresse. Apesar
da lista, 18,5% dos entrevistados não mencionaram nem
mesmo um fator de risco.
A pesquisa mostra que os
brasileiros confundem o AVC
com problemas do coração,
nervosismo, pressão alta, epilepsia e até câncer.
Esse foi o caso do funileiro
César Marcos Codognotto, 41,
que, há três semanas, em Ribeirão Preto (SP), repentinamente
começou a sentir-se mal.
"Começou um formigamento no lado direito do corpo. Eu
não conseguia me locomover.
Falei para a minha mulher: "Vamos para o hospital". Tiveram
de me ajudar a sair do carro. Eu
já estava travado", diz.
Eram os sintomas de um
AVC, mas Codognotto não imaginava: pensou ser pressão alta
ou ataque do coração.
Segundo o neurologista Octávio Marques Pontes-Neto, da
USP de Ribeirão Preto, um dos
autores da pesquisa, "as seqüelas e as mortes ocorrem justamente porque as pessoas chegam muito tarde ao hospital".
Dos 800 entrevistados, só um
sabia que existe remédio que
pode evitar as seqüelas do AVC.
Tal medicamento dissolve o
coágulo que entope o vaso cerebral. Para funcionar, porém, a
droga deve ser dada até três horas após os primeiros sintomas.
911
Os pesquisadores perguntaram qual é o telefone de emergências médicas. Apenas 34,6%
disseram corretamente os números nacionais 192 (do Serviço de Atendimento Móvel de
Urgência, o Samu) e 193 (dos
bombeiros). O restante não
soube responder ou citou telefones errados, como o 911 (da
polícia dos EUA).
"Até uns 20 anos atrás, o AVC
estava estigmatizado como
uma doença sem tratamento.
Por causa disso, ficou negligenciado", diz o neurologista Rubens José Gagliardi, presidente
da Associação Paulista de Neurologia e membro da Academia
Brasileira de Neurologia. "Hoje
sabemos como prevenir e temos como tratar. Para isso, porém, é fundamental que as pessoas conheçam a doença."
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