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21% dos municípios do PA não têm médicos
Ausência de profissionais em 31 dos 143 municípios do Estado obriga mulheres grávidas a buscar tratamento em Belém
Só 1 em cada 3 mulheres no Pará que usam o SUS tem acompanhamento durante a gravidez, como o pré-natal, o que poderia impedir doenças
JOÃO CARLOS MAGALHÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM
Ao menos 30 dos 143 municípios (21%) do Pará não têm nenhum médico, o que impede a
atuação permanente do programa Saúde da Família nessas
cidades e obriga as mulheres
grávidas a buscar tratamento,
muitas vezes tardio, em Belém.
Hoje, apenas uma em cada
três mulheres do Estado que
usam o SUS (Sistema Único de
Saúde) tem durante sua gravidez acompanhamento preventivo, como o pré-natal, o que
poderia impedir que doenças
de solução simples -como infecções urinárias- acabassem
complicando a gestação.
As estimativas são do próprio
governo de Ana Júlia Carepa
(PT), que enfrenta uma crise
depois que ao menos 30 bebês
morreram na maternidade da
Santa Casa de Belém, hospital
estadual, desde 20 de junho.
Para o governo e médicos do
hospital ouvidos pela reportagem, a falta de atenção básica à
saúde no Estado é o pano de
fundo dos óbitos. A responsabilidade de fazer essa assistência
é das administrações municipais, geralmente com repasse
de recursos federais.
"Se elas forem gestantes adolescentes, gestantes que não
têm pré-natal, se tiverem algum problema de desnutrição,
elas terão uma gravidez de alto
risco", disse à Folha Danieli
Cavalcante, diretora técnica da
Secretaria Estadual da Saúde.
Dentre as 12 primeiras mortes, ocorridas entre os dias 20 e
22 do mês passado, por exemplo, dois bebês tinham peso
abaixo do normal para sua idade, o que pode indicar descuido
com a alimentação da mãe.
O déficit de médicos não se
deve à falta de dinheiro para
pagar seus salários, mas à falta
de vontade dos profissionais
em morarem em pequenos
municípios que muitas vezes
estão isolados em lugares remotos da floresta amazônica.
A situação mais crítica é na
região do Marajó (norte do Estado), onde algumas cidades no
arquipélago são acessíveis apenas de barco, já que a maioria
da população não pode comprar uma passagem de avião.
Os doentes que têm sorte
conseguem que o helicóptero
do Corpo de Bombeiros os resgate. Mas boa parte dos pacientes usa o transporte fluvial
-que pode demorar mais de
um dia até chegar a um médico.
A dificuldade logística, diz o
governo, impossibilita a cobertura médica a toda a população.
"Se chegar a 50%, já seria
bom", afirmou Silvia Cumaru,
presidente interina da Santa
Casa de Belém. Mesmo no hospital, a secretária da Saúde,
Laura Rossetti, estima que haja
a necessidade da contratação
de ao menos 70 pediatras.
Segundo ela, a falta de gente
capacitada para atender recém-nascidos foi uma das causas para a não-implantação de
uma força-tarefa logo depois
das primeiras mortes.
Dados do Ministério da Saúde indicam que o Saúde da Família alcança só 33,6% da população paraense -cerca de 7
milhões de pessoas. De janeiro
a junho deste ano, a pasta gastou R$ 25,5 milhões com equipes do programa no Estado.
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