São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008

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Empresas ajudam funcionárias com TPM

Tratamento coletivo de tensão pré-menstrual de empregadas reduz faltas excessivas e melhora ambiente de trabalho

Companhias onde maioria dos trabalhadores é mulher já identificaram até 40% das funcionárias com TPM ou outras disfunções parecidas


MÁRCIO PINHO
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

No auge da TPM, uma auxiliar de enfermagem sentia prazer em espetar a veia dos pacientes, uma executiva demitia funcionários sem piedade e uma atendente de telemarketing deixava os clientes esperando na linha inutilmente.
As situações acima foram relatadas a médicos durante um tipo de programa que ganha corpo no mundo empresarial: a prevenção coletiva dos distúrbios relacionados ao ciclo hormonal, especialmente a conhecida tensão pré-menstrual.
Em empresas onde trabalham majoritariamente mulheres, os especialistas já encontraram 40% da força de trabalho sofrendo de TPM e outras moléstias de sintomas parecidos, como a SIM (síndrome inter-menstrual, uma espécie de TPM no período da ovulação).
"As empresas se moldaram para receber homens e ainda não sabem como acolher mulheres", diz o ginecologista e obstetra Eliezer Berenstein, que faz um programa de minimização da TPM em empresas. Entre as instituições que adotaram a idéia, ele cita o banco Real, a Avon e o Hospital São Luiz, em São Paulo.
Neste último, as funcionárias Marcia Regina da Silva, 38, Edivânia de Sousa, 42, e Darcy Sampaio, 48, são algumas das que se beneficiaram com o programa. "Eram dias terríveis. Parecia uma panela de pressão. Ficava segurando no trabalho e depois explodia em casa", diz Márcia, enfermeira obstetra, que conseguiu amenizar a TPM com atividade física e veto ao chocolate, por exemplo.
Darcy, secretária, também lembra dos maus-bocados que passou no auge da TPM. "Todo mundo percebia que eu não estava bem. Ficava irritada, com dor de cabeça, inchada", conta ela, que também aprendeu a controlar a TPM apenas com mudanças no estilo de vida.
O programa realizado por Berenstein passa pela fase de diagnóstico, que identifica as funcionárias com TPM e outras alterações por meio de questionários específicos e anônimos. Depois, a empresa recebe um relatório sobre os problemas hormonais das funcionárias e um plano terapêutico -que inclui orientações sobre alimentação e atividade física.

Faltas e demissões
A relação existente entre TPM e problemas no trabalho é um dos motivos que leva não só as empresas a procurar esse tipo de serviço como também as próprias funcionárias.
A professora de pilates Alessandra Paulitsch, 26, conta que procurou tratamento porque ficava de mau humor e falta de disposição nos dias de TPM.
"Isso prejudicava o meu trabalho. Não tinha a energia e a disposição comum de sempre. Os sete dias antes da menstruação eram bastante complicados", conta ela, que há dois anos iniciou um tratamento com anticoncepcionais para acabar também com a menstruação. "Era outro incômodo durante os exercícios."
Pesquisas já mostraram que mulheres que sofrem com a tensão pré-menstrual faltam em média o dobro. Segundo o Centro de Apoio à Mulher com TPM do Hospital das Clínicas de São Paulo, cerca de 8% das pacientes que procuram o serviço relatam sintomas que as fizeram perder o emprego ou terminar o relacionamento. Dentre as queixas mais comuns das que pediram demissão ou foram demitidas estão irritabilidade e depressão.
No Hospital São Luiz, por exemplo, em média 120 funcionárias faltavam por mês em razão dos distúrbios hormonais. Após um trabalho de detecção e tratamento da TPM, esse índice quase zerou, segundo o ginecologista Alberto D'Auria -que coordenou o projeto.
"Além da tensão, existe comprovadamente uma queda do sistema auto-imune nesse período, o que propicia as infecções", diz. Para ele, faz sentido tratar coletivamente a TPM porque as mulheres que ficam muito tempo juntas tendem a ter o "comportamento hormonal e emocional equalizado."


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