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Empresas ajudam funcionárias com TPM
Tratamento coletivo de tensão pré-menstrual de empregadas reduz faltas excessivas e melhora ambiente de trabalho
Companhias onde maioria dos trabalhadores é mulher já identificaram até 40% das funcionárias com TPM ou outras disfunções parecidas
MÁRCIO PINHO
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
No auge da TPM, uma auxiliar de enfermagem sentia prazer em espetar a veia dos pacientes, uma executiva demitia
funcionários sem piedade e
uma atendente de telemarketing deixava os clientes esperando na linha inutilmente.
As situações acima foram relatadas a médicos durante um
tipo de programa que ganha
corpo no mundo empresarial: a
prevenção coletiva dos distúrbios relacionados ao ciclo hormonal, especialmente a conhecida tensão pré-menstrual.
Em empresas onde trabalham majoritariamente mulheres, os especialistas já encontraram 40% da força de trabalho sofrendo de TPM e outras
moléstias de sintomas parecidos, como a SIM (síndrome inter-menstrual, uma espécie de
TPM no período da ovulação).
"As empresas se moldaram
para receber homens e ainda
não sabem como acolher mulheres", diz o ginecologista e
obstetra Eliezer Berenstein,
que faz um programa de minimização da TPM em empresas.
Entre as instituições que adotaram a idéia, ele cita o banco
Real, a Avon e o Hospital São
Luiz, em São Paulo.
Neste último, as funcionárias
Marcia Regina da Silva, 38, Edivânia de Sousa, 42, e Darcy
Sampaio, 48, são algumas das
que se beneficiaram com o programa. "Eram dias terríveis.
Parecia uma panela de pressão.
Ficava segurando no trabalho e
depois explodia em casa", diz
Márcia, enfermeira obstetra,
que conseguiu amenizar a TPM
com atividade física e veto ao
chocolate, por exemplo.
Darcy, secretária, também
lembra dos maus-bocados que
passou no auge da TPM. "Todo
mundo percebia que eu não estava bem. Ficava irritada, com
dor de cabeça, inchada", conta
ela, que também aprendeu a
controlar a TPM apenas com
mudanças no estilo de vida.
O programa realizado por
Berenstein passa pela fase de
diagnóstico, que identifica as
funcionárias com TPM e outras
alterações por meio de questionários específicos e anônimos.
Depois, a empresa recebe um
relatório sobre os problemas
hormonais das funcionárias e
um plano terapêutico -que inclui orientações sobre alimentação e atividade física.
Faltas e demissões
A relação existente entre
TPM e problemas no trabalho é
um dos motivos que leva não só
as empresas a procurar esse tipo de serviço como também as
próprias funcionárias.
A professora de pilates Alessandra Paulitsch, 26, conta que
procurou tratamento porque
ficava de mau humor e falta de
disposição nos dias de TPM.
"Isso prejudicava o meu trabalho. Não tinha a energia e a
disposição comum de sempre.
Os sete dias antes da menstruação eram bastante complicados", conta ela, que há dois anos
iniciou um tratamento com anticoncepcionais para acabar
também com a menstruação.
"Era outro incômodo durante
os exercícios."
Pesquisas já mostraram que
mulheres que sofrem com a
tensão pré-menstrual faltam
em média o dobro. Segundo o
Centro de Apoio à Mulher com
TPM do Hospital das Clínicas
de São Paulo, cerca de 8% das
pacientes que procuram o serviço relatam sintomas que as fizeram perder o emprego ou
terminar o relacionamento.
Dentre as queixas mais comuns
das que pediram demissão ou
foram demitidas estão irritabilidade e depressão.
No Hospital São Luiz, por
exemplo, em média 120 funcionárias faltavam por mês em razão dos distúrbios hormonais.
Após um trabalho de detecção e
tratamento da TPM, esse índice quase zerou, segundo o ginecologista Alberto D'Auria -que
coordenou o projeto.
"Além da tensão, existe comprovadamente uma queda do
sistema auto-imune nesse período, o que propicia as infecções", diz. Para ele, faz sentido
tratar coletivamente a TPM
porque as mulheres que ficam
muito tempo juntas tendem a
ter o "comportamento hormonal e emocional equalizado."
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