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Pesquisa da Fiocruz atribui erro médico à má gestão do sistema
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Dois em cada três (66,7%) erros ocorridos nos hospitais públicos brasileiros são evitáveis,
segundo pesquisa da Escola
Nacional de Saúde Pública da
Fiocruz. Conduzido pelo médico Wagner Mendes, o estudo
quantificou os chamados
"eventos adversos": danos causados ao paciente por falha do
médico, falta de material e de
procedimentos adequados no
hospital ou efeitos colaterais
esperados de medicamentos ou
tratamentos.
O levantamento foi feito em
três hospitais públicos no Rio
em 2003. Para Mendes, a
amostra é válida para indicar o
que acontece em todo o Brasil e
representa a situação nacional
"até de forma subestimada".
"A incidência de eventos adversos no Brasil não é muito diferente da dos países desenvolvidos. O que chama a atenção é
a proporção de problemas evitáveis. Na minha avaliação, o
principal problema é a gestão
do sistema de saúde, e não dos
profissionais", disse Mendes.
O índice de 66,7% de eventos
adversos evitáveis é bem maior,
por exemplo, do que os da
França (27%) e do Canadá
(37%). A pesquisa é a primeira
do tipo realizada na América
Latina.
Os hospitais disponibilizaram prontuários de 2003. A
equipe de Mendes estudou
1.103 documentos. Desse total,
7,6% são de pessoas que tiveram eventos adversos. A taxa é
semelhante à de países desenvolvidos como França (9%) e
Canadá (7,5%).
Mendes cita a falta de um
controle eletrônico dos pacientes e dos prontuários como
exemplo de problema de gestão
hospitalar que pode provocar
um evento adverso.
"Medidas simples como colocar uma pulseira com códigos
de barras no paciente evitariam
problemas de erro de medicação, por exemplo", afirma.
"Os pacientes são tratados de
forma amadora no Brasil", diz
Mendes. "Nos países desenvolvidos a gestão é profissional.
Aqui ainda temos partidos políticos indicando diretores de
hospitais."
Segundo ele, não é possível
separar na pesquisa os problemas causados por falha do médico ou da gestão do sistema de
saúde. "Quando um médico
causa um problema no paciente durante a cirurgia por falta
de tomografia, já que não existe
tomógrafo no hospital, de
quem é a culpa? Do médico,
que causou o problema, ou do
hospital, que não ofereceu o tomógrafo?"
Segundo a pesquisa, 48,5%
dos eventos adversos ocorrem
na enfermaria. Nos países desenvolvidos, o centro cirúrgico
é o local com mais casos.
Em relação à origem dos
eventos, a cirurgia está no topo
da lista, assim como ocorre nos
países desenvolvidos.
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