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PM deveria estar preso no dia do assassinato de jovem
Condenado pelo crime, cabo tinha mandado de prisão pendente por assalto à mão armada
Promovidos enquanto respondiam à acusação, policial e colega receberam sentença na terça, após investigação da mãe de Hanry
ITALO NOGUEIRA
DA SUCURSAL DO RIO
Um dos PMs condenados na
terça-feira passada pela morte
de Hanry Silva Gomes de Siqueira, 16, deveria estar preso
no dia 21 de novembro de 2002,
data da operação da polícia em
que o garoto foi assassinado
com um tiro no peito no morro
do Gambá, no Rio.
O policial militar Marcos Alves da Silva foi condenado, em
1998, a quatro anos de prisão
em última instância por assalto
à mão armada em Nilópolis
(Baixada Fluminense).
O mandado só foi cumprido
no mês passado, em 14 de agosto, quando seria feito o julgamento do caso Hanry -cancelado naquele dia pela ausência
de um dos advogados.
Segundo consta da ficha disciplinar da Polícia Militar, obtida pela Folha, Silva, com outros três homens, foi em 8 de
agosto de 1996 à casa de Ivanildo Santos Bento "fazer uma cobrança". Após discussão, o cabo
disparou contra o imóvel. Sem
o dinheiro que pretendia obter,
o grupo roubou uma moto.
Pelo assalto, a PM o manteve
em prisão disciplinar por 30
dias. Ele sofreu ainda duas repreensões e detenção de dois
dias por transgressões administrativas.
Paulo Roberto Paschuini, o
outro PM condenado pela
morte de Hanry, também tem
registros em sua ficha disciplinar. Ele se envolveu em uma
confusão em Itaguaí (Baixada
Fluminense) e atirou contra
seu oponente. Responde a processo por tentativa de homicídio na comarca da cidade.
Pelo entrevero, ficou preso
administrativamente por 30
dias. Ele também tem uma repreensão anotada.
Tudo isso ocorreu antes de
2002, quando Hanry foi morto.
Promoção
Mesmo com as acusações e
respondendo pela morte do garoto, os dois policiais foram
promovidos pela polícia do Rio.
No início do processo do caso
Hanry, em 2006, Silva era soldado e Paschuini, cabo. Ao final, eram cabo e terceiro-sargento, respectivamente.
A PM confirmou a promoção, mas não divulgou a data
exata em que os policias trocaram de patente. De acordo com
a assessoria de imprensa da
corporação, eles foram promovidos por tempo de serviço. A
PM diz que os dois agentes respondem por processo administrativo pelo caso Hanry.
A PM e a Vara de Execuções
Penais não informaram, até a
conclusão desta edição, porque
o mandado de prisão não foi
cumprido. Ele só foi preso porque a Promotoria identificou a
condenação pendente e avisou
ao juiz Sydnei Rosa, do 3º Tribunal do Júri, que determinou
a prisão do policial.
Crime
Silva e Paschuini responderam a processo por homicídio
doloso e fraude processual pela
morte do garoto. Foram condenados na terça após investigação feita pela mãe da vítima,
Márcia de Oliveira Jacintho.
Os PMs foram acusados da
morte de Hanry e de terem
apresentado arma e droga como "provas" de que o jovem
trocara tiros com a polícia durante operação no morro. Silva
foi condenado a nove anos de
prisão por homicídio doloso e
fraude processual. Paschuini, a
três anos pelo último crime.
Durante seis anos, Márcia,
46, investigou a morte do filho.
Colheu depoimentos de testemunhas, conseguiu perícia no
local e até direito estudou para
provar que ele não morreu em
troca de tiros com a polícia, como havia dito a PM.
Ela realizou trabalho de perita e advogada, abandonou o
emprego de vendedora e passou a cobrar a investigação das
autoridades. Para isso, contou
com a ajuda da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia
e da ONG Justiça Global.
Com base em depoimentos
de moradores, placas e números de veículos anotados, Márcia diz que 11 PMs participaram
da operação. Apenas a dupla
que assumiu ter atirado foi denunciada -e condenada. Ao final da investigação, já havia se
formado no ensino médio e
cursado o primeiro período de
direito -trancado atualmente.
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