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Exército pressiona, e juiz é tirado do caso Providência
Para Comando Militar do Leste, magistrado tratou tenente e praças de maneira desrespeitosa e vexatória durante interrogatórios
RAPHAEL GOMIDE
DA SUCURSAL DO RIO
O comandante do Comando
Militar do Leste (CML), general-de-exército Luiz Cesário da
Silveira Filho, foi ao presidente
do Tribunal Regional Federal
da 2ª Região, Castro Aguiar, reclamar do juiz Marcello Granado e pedir seu afastamento do
processo do morro da Providência, no Rio.
Convocado pelo TRF para
atuar em segunda instância em
substituição a uma juíza do tribunal -em espécie de promoção temporária-, Granado não
se ocupa mais do processo.
Em 14 de junho, três jovens
da Providência (centro) foram
assassinados, após terem sido
presos e entregues por 11 militares do Exército a traficantes
do morro da Mineira (zona
norte). A Força atuava na favela
no projeto Cimento Social (reforma de fachadas de casas), do
senador e candidato a prefeito
do Rio Marcelo Crivella (PRB).
O TRF confirmou que o general Cesário -comandante
das tropas do Exército no Rio,
em Minas e no Espírito Santo-
se reuniu com Castro Aguiar
duas vezes para tratar do tema
"Providência". A primeira, em
20 de junho, ao lado do ministro da Defesa, Nelson Jobim; a
segunda, em particular.
O presidente do TRF, por
meio da assessoria, afirmou
que não comentaria o caso. O
CML também não comentou.
A Folha apurou que o comando do CML ficou incomodado com a forma de Granado
conduzir os interrogatórios dos
militares. Na visão do alto escalão do Exército no Rio, o tenente e os praças denunciados pelo
Ministério Público Federal estavam sendo humilhados e expostos à imprensa pelo juiz, em
audiências públicas, filmadas e
fotografadas. Cesário estava
em Portugal no auge da crise.
Quando voltou, foi ao TRF.
O estilo do juiz é, em sua própria definição, "franco" e "direto", de quem "mostra o que está pensando". Em vários momentos dos interrogatórios
com os 11 militares, foi irônico
ou incisivo, pressionando os
acusados com perguntas duras
e demonstrando que não acreditava nas explicações apresentadas. Também criticou o
Exército indiretamente.
Granado não está mais no
processo. Após tirar férias -segundo ele, já programadas-
atua como juiz convocado do
TRF. O juiz substituto da 7ª
Vara Criminal Federal (da qual
Granado é titular), Erik Navarro Wolkart, assumiu o caso.
O Ministério Público Federal
e o juiz Granado negam que a
substituição tenha ocorrido
por pressões do CML. Granado
afirmou que, antes de ser designado para o caso, já tinha sido consultado pela juíza do
TRF Maria Helena Cisne sobre
a disponibilidade de substituí-la, porque ela estaria no Tribunal Regional Eleitoral até o fim
das eleições. "Não tem o menor
cabimento", disse.
Para o MPF, Granado -ex-defensor público- pode até ser
considerado um juiz mais favorável à defesa do que o novo
responsável pelo caso, Erik
Wolkart, considerado "mais rígido". De acordo com um integrante do MPF, os advogados
de defesa preferem Granado.
A Folha falou por telefone e
enviou e-mails às assessorias
de imprensa do TRF e do Comando Militar do Leste, perguntando especificamente sobre o pedido do general para
afastar o juiz do caso.
Nenhuma das duas instituições negou o fato. O tribunal
informou que seu presidente,
Castro Aguiar, não comentaria
o caso e sugeriu que o repórter
consultasse o CML, que pediu a
audiência. A seção de comunicação do CML informou que o
comandante Cesário não falaria sobre o episódio.
Colaborou SERGIO TORRES, da Sucursal do Rio
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