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CRISE NA USP
Alunos da FFLCH, em greve há 67 dias, preparam shows e novos protestos para não enfraquecer movimento
Grevistas buscam manter força nas férias
MARIANA VIVEIROS
DA REPORTAGEM LOCAL
Fazer festas com shows de ex-alunos famosos, organizar atos de
protesto no Palácio dos Bandeirantes (sede do governo paulista)
e audiências públicas na Assembléia Legislativa, recorrer novamente aos professores notáveis e
também à ajuda financeira das
entidades estudantis.
Vale tudo para evitar que a greve dos alunos da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) perca a força durante o período de férias da USP
(Universidade de São Paulo).
Depois que decidiram pela continuidade da paralisação, na assembléia de quinta-feira passada,
os estudantes avaliam que o
maior desafio agora é manter a
mobilização até agosto, ou melhor, retomar a mobilização que,
para muitos, vem enfraquecendo
ao longo dos 67 dias de greve.
Só nas assembléias
Grande parte dos que se manifestaram na quinta-feira reclamaram que os estudantes só participam das assembléias porque é
onde há a possibilidade real de decisão sobre os caminhos do movimento, mas "furam" nos atos públicos, como o que tinha sido programado para ocorrer no largo da
Batata (em Pinheiros, zona oeste
de São Paulo), mas ao qual praticamente ninguém compareceu.
"Eu fui o único", lembrou Matheus Lima, estudante da filosofia.
"Nosso retrospecto de mobilização não é bom; os comandos de
greve muitas vezes só têm três
pessoas, e julho não é fácil porque,
além das férias, tem feriado. Vamos precisar organizar o que fazer para chegarmos em agosto",
ressalta o estudante.
Lima é um dos representantes
dos alunos nas reuniões da congregação da FFLCH.
"Só a intensificação do movimento, por meio de atos públicos,
vai conseguir encostar a reitoria
na parede. Qualquer um que for lá
negociar com eles sem força vai
voltar de mãos abanando", disse
Renato Soares Bastos, um dos representantes dos alunos na comissão tripartite (reitoria, professores e alunos) que negociou a
mais recente -e rejeitada- proposta para o fim da greve.
Na opinião dos grevistas, há força para continuar lutando, mas as
estratégias para isso ainda não estão bem definidas. Na assembléia,
foram recebidas mais de cem sugestões de atividades a serem desenvolvidas durante as férias, mas
elas só serão votadas na próxima
quinta-feira, depois de terem sido
discutidas em cada curso.
Uma coisa parece certa, porém:
o próximo "alvo" é o governador,
e candidato à reeleição, Geraldo
Alckmin (PSDB). Na semana passada, docentes e alunos falaram
por diversas vezes em ir "bater na
porta de quem tem o dinheiro", já
que uma das justificativas da reitoria para não conceder novos
professores é o déficit orçamentário, e chamar os candidatos ao governo do Estado para debater a situação da USP e da FFLCH.
Uma panfletagem está prevista
para terça-feira pela manhã, em
frente à Assembléia Legislativa,
onde o governador irá participar
de comemoração ao 9 de Julho.
A idéia, de acordo com Lima, é
relacionar a Revolução Constitucionalista de 1932 (razão da data
comemorativa) com a fundação
da faculdade.
Entidades
Alguns estudantes estão cobrando também auxílio financeiro de suas entidades representativas, como a UNE (União Nacional dos Estudantes), a UEE
(União Estadual dos Estudantes)
e o DCE (Diretório Central dos
Estudantes) da USP, para as ações
de mobilização.
A UNE ofereceu colocar a banca
das entidades no encontro da
SBPC (Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência), que começa hoje, à disposição dos grevistas,
para exposição de fotos e relato de
experiências da greve. Já o DCE
sustentou que não tem recursos
financeiros para ajudar, mas
apóia o movimento.
A cobrança não é, entretanto,
uma unanimidade. "Muitos alunos, acho que nem gostariam que
as entidades estivessem presentes
nas discussões", afirma Lima.
91 versus 259
Os estudantes da FFLCH, que
representam cerca de 20% do total de alunos da USP (ou em torno
de 12 mil pessoas), recusaram a
proposta de receberem, ao todo,
91 novos professores, sendo 45
neste ano e 46 até 2004.
Os estudantes reivindicam 259
docentes e fazem coro aos professores, que reclamam dos padrões
tomados como base pela reitoria
na definição do número de vagas
que deveriam ser concedidas à
unidade. Professores relatam que,
em algumas aulas, chegam a dar
aulas para mais de 200 estudantes.
Ao rejeitar a proposta, a comunidade da FFLCH criticou o fato
de a reitoria ter adotado como critério para o cálculo das vagas a serem oferecidas uma carga horária
de oito horas semanais de aula,
quando um decreto da USP determina a carga máxima de seis horas/aula e duas horas de atividades didáticas extra-classe.
Seguindo esses parâmetros,
afirmam, deveriam ser oferecidos
para a FFLCH 185 novos professores. A contraproposta dos grevistas, porém, só será fechada na
próxima assembléia (quarta-feira). Enquanto não for comunicada oficialmente da rejeição da
oferta, a reitoria informou que
não vai se manifestar sobre a decisão dos estudantes de manter a
paralisação.
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