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Propaganda de alimento alertará para risco de doença
Resolução preparada pela Anvisa torna aviso obrigatório a partir do ano que vem
Restrições devem ser ainda mais duras em relação à publicidade para crianças de alimentos com altos teores de açúcar, gordura e sal
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Esse alimento contém elevada quantidade de gordura saturada/trans. O consumo excessivo aumenta o risco de desenvolver doenças do coração."
A partir do próximo ano, esse
aviso-que também alerta para
os perigos do sal e do açúcar-
vai estampar as propagandas
de sorvetes e tortas, entre outros alimentos industrializados. Estuda-se também criar
uma tarja preta -como de remédios- para identificar alimentos perigosos à saúde.
As propostas fazem parte de
uma resolução que está sendo
elaborada pela Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária), que vai restringir a publicidade de alimentos com quantidades de açúcar, gorduras saturada e trans e sódio elevadas.
As restrições devem ser ainda mais duras em relação às
propagandas destinadas às
crianças. Há uma proposta de
limitar o horário de veiculação
no rádio e na TV e outra que
proíbe que as propagandas
usem personagens infantis.
A consulta pública sobre o tema -que reuniu 676 sugestões- será publicada nesta semana. Depois, o texto passará
por uma audiência pública, e a
previsão é que as novas normas
passem a valer em 2009.
Segundo Maria José Delgado, gerente de monitoramento
e fiscalização de propaganda da
Anvisa, uma das questões que
ainda precisa ser definida é o limite seguro do consumo dessas
substâncias (ponto de corte).
"Quantas bolachas eu posso comer por dia sem que isso represente um risco à saúde?"
Delgado defende que a mudança na legislação seja um
passo fundamental para reverter crescentes índices de obesidade e sobrepeso no país. Só
entre os jovens, a obesidade já
atingiu a marca de 6 milhões.
Hoje, a comunidade científica não tem dúvida de que o tipo
de alimentação veiculada na
publicidade é fator de risco para doenças como hipertensão.
Dados do IBGE mostram que
em 30 anos houve um aumento
de 4% para 18% no número de
crianças e adolescentes do sexo
masculino acima do peso. O
crescimento entre as meninas
foi de 7,5% para 15,5% no mesmo período. Ao mesmo tempo,
doenças como diabetes, obesidade e infarto são responsáveis
por quase 50% das mortes no
Brasil e representam atualmente 69% dos gastos do SUS,
segundo o Ministério da Saúde.
"Existem indústrias que não
fazem publicidade de alimentos que causam obesidade em
outros países [porque são proibidas], e o fazem aqui. Será que
nossas crianças são diferentes
das demais?", questiona José
Augusto Taddei, professor de
nutrologia infantil da Universidade Federal de São Paulo.
De 73 países estudados pela
Organização Mundial da Saúde, 85% regulamentam a publicidade (veja quadro).
Taddei afirma que as crianças não conseguem separar o
personagem do desenho daquele mesmo que aparece na
propaganda de alimentos.
A pedagoga Daniele Novelini
de Ávila, 28, conta que os personagens influenciam na escolha
dos alimentos preferidos da filha Fernanda, 7. "Tenho muito
cuidado na hora de comprar,
mas não dá para escapar do bolinho da Mônica ou do iogurte
do Bob Esponja. É muito grande a influência dessas propagandas sobre as crianças", diz.
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