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Megablitz da lei seca encontra motorista mais precavido
De 570 testes de bafômetro, 6,5% resultaram em autuação por excesso de álcool
Investida da polícia foi a primeira, desde o dia 20, em bairros de SP freqüentados por jovens de alto poder aquisitivo, como Pinheiros
PAULO SAMPAIO
MARCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
Feliz da vida depois de cerca
de 30 minutos de tensão, a estudante Marinês, 22, que faz
engenharia civil na USP, grita
ao celular: "Mãe! Passei no teste do bafômetro!".
Marinês, o namorado, Tiago,
23, e um casal de amigos foram
parados anteontem por uma
blitz da lei seca, na avenida Juscelino Kubitschek, à saída de
um bar. O único que não havia
bebido era Tiago, porque estava
dirigindo, mas sem a habilitação -o que lhe rendeu uma
multa. Por isso, Marinês, 0,07
mg/l de álcool no ar expelido,
fez o teste para poder assumir o
volante no lugar dele.
A megaoperação anunciada
pela PM para a noite de sábado/madrugada de domingo
abordou 1.457 pessoas.
Foi a primeira investida da
Operação Direção Segura em
bairros de São Paulo freqüentados por jovens de poder aquisitivo alto -como Vila Madalena,
Pinheiros, Itaim e Vila Olímpia- desde a entrada em vigor
da nova lei, em 20 de junho.
Trezentos policiais participaram da operação, segundo a
PM. Ao todo, 570 motoristas fizeram o teste do bafômetro, 37
foram autuados por excesso de
álcool (6,5% dos que fizeram o
exame do bafômetro) e 14 foram levados às delegacias -por
"embriaguez ao volante".
De acordo com a nova lei, o
motorista pego na direção com
mais de dois decigramas de álcool por litro de sangue (ou 0,1
mg de álcool por litro de ar expelido no bafômetro, o equivalente a um copo de chope) é
multado em R$ 955; a partir de
seis decigramas (ou 0,3 mg/l,
no bafômetro, o equivalente a
dois copos de chope), vai preso.
Como Tiago, a maior parte
dos autuados passou no teste
do bafômetro, mas foi pega por
outras infrações, como carteira
de habilitação vencida, licenciamento atrasado, placas do
carro ilegíveis. "Bairro nobre
tem dessas coisas. Vê se eles
vão pra Taboão [da Serra]", diz,
chorando, a instrumentadora
Beatriz Nogueira, 39, parada
por volta das 23h na barreira
montada na avenida Faria Lima, próximo à rua Pedroso de
Moraes, em Pinheiros. Beatriz
não bebeu, mas estava com o licenciamento de seu Ford Ka
vencido desde 1998.
Uma parte dos motoristas reconheceu, longe dos policiais,
que em um fim de semana
"normal" estaria dirigindo depois de beber. Mas, por causa
da ampla divulgação da blitz,
evitaram assumir o volante na
madrugada de sábado.
"Misturei tudo, a gente estava em um casamento", conta o
comerciante Robson Moreno,
31, que entregou o volante para
a mulher, Kátia.
"A coisa é séria. Bebi ontem,
não dirigi", disse o empresário
Anderson Barbosa, 40, que levava três amigos. "Hoje, ele bebeu, eu dirigi", disse, apontando um companheiro.
O capitão Storai, responsável
pela operação, acredita numa
mudança de hábitos. "Você viu
a quantidade de táxis [com passageiro]? As pessoas sabem que
vão ter de pagar a multa ou que
podem ir presas, ninguém
quer", diz ele, por volta das 3h.
Entre os raros casos extremos estão o de um comerciante
de 27 anos parado por volta das
3h15 na avenida Henrique
Schaumann, Pinheiros.
Na conversa com policiais,
ele admitiu que teve dificuldade para sair do Fox que dirigia
-mas se recusou a se submeter
ao bafômetro, dizendo que estava no seu direito de não produzir provas contra si mesmo.
Após mais de uma hora de espera, o comerciante teve o Fox
guinchado. Um carro policial o
conduziu até o 14º DP, onde o
pai dele retirou o veículo. Em
seguida, foi levado ao IML para
um exame clínico. O caso é investigado pela polícia.
Um amigo que o acompanhava no carro e fez o teste do bafômetro (0,16 mg/l) criticava a
lei: "Afinal, quanto a gente pode
beber? 0,1 mg/l? 0,2 mg/l? Isso
tá errado!". "Se vai dirigir, não
pode beber nada!", respondeu
um policial.
O motorista Samuel Jung,
24, que pilotava um Honda Civic, tentou dar meia volta para
escapar da blitz na avenida Ibirapuera, mas foi rapidamente
barrado por um policial. "Eu vi
a história das blitze no jornal e
"apavorei'", disse. Jung soprou
o bafômetro e.... foi liberado,
com 0,07. Disse que bebeu duas
latinhas de cerveja.
O único motorista que teve
de pagar fiança para não ser
preso foi uma psicóloga de 25
anos autuada na esquina da rua
Teixeira da Silva com a avenida
Paulista, na Vila Mariana, onde
não houve blitz.
Ela bateu seu Peugeot na traseira de um carro parado no semáforo. A PM foi acionada, solicitou o teste e o resultado
apontou 0,49 mg/l.
Levada ao 36º DP (Paraíso),
teve a habilitação apreendida e
o carro recolhido por falta de licenciamento. A jovem só foi liberada depois de pagar R$ 500.
Os demais 13 motoristas encaminhados aos distritos policiais foram liberados sem pagar
fiança, segundo a Secretaria da
Segurança Pública.
Colaborou o "Agora"
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