Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EDUCAÇÃO
Aluno não trata nem gripe, diz médico
Antonio Carlos Lopes, diretor da Sociedade Brasileira de Clínica Médica, afirma que cursos mal avaliados deveriam ser fechados
"Já vi aluno que passou
saliva na agulha [para fazer
sutura]. Vi aluno fazer
exame ginecológico sem
pôr luva", conta Lopes
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
O médico Antonio Carlos Lopes, que dirige a Sociedade Brasileira de Clínica Médica e até o
início deste ano presidia a Comissão Nacional de Residência
Médica, do Ministério da Educação, diz que todas as faculdades de medicina mal avaliadas
deveriam ser fechadas.
FOLHA - O Enade mostra que muitas escolas de medicina não têm
qualidade...
ANTONIO CARLOS LOPES - As escolas que tiraram conceito 1 deveriam ser fechadas.
FOLHA - Que problemas têm?
LOPES - Não têm hospital próprio, os professores não são titulados e não se dedicam à pesquisa. Os professores deveriam
estar aprendendo. Já vi alunos
tendo aula de anatomia com
slide. Conheço uma escola que,
por não ter hospital-escola, divide a turma em três grupos e
manda cada um para um hospital diferente. Cada grupo
aprende de maneira distinta.
FOLHA - Como são os alunos?
LOPES - Não sabem nem tratar
gripe. Vejo isso nas provas práticas para residência médica. Já
vi aluno que, na hora de passar
o fio na agulha [para fazer sutura], passou saliva na agulha. Vi
aluno fazer exame ginecológico
sem pôr luva. Já ouvi estudante
dizer que o ducto pancreático
sai da vesícula. E o pior é que os
alunos depois não vão ter condições de fazer residência num
lugar bom. Poderão colocar a
vida do paciente em risco.
FOLHA - Por que existem tantas faculdades ruins no país?
LOPES - Em primeiro lugar, para atender à vaidade dos reitores. Um curso de medicina dá
status. Em segundo, por interesse mercadológico. O aluno
paga R$ 3.500 por mês. Escola
de medicina dá dinheiro.
FOLHA - Qual é a solução?
LOPES - A situação só vai mudar
se elas fecharem. O ministro da
Educação é um indivíduo bem
intencionado e trabalhador,
mas não sei se tem força para
fechar as escolas ruins. O governo ainda vê a medicina pela
janela do gabinete. O poder
[das faculdades] é muito grande. Elas fazem um lobby político, e até partidário, muito forte.
É mais fácil o ministro cair do
que fechar uma faculdade.
Texto Anterior: São Camilo é única particular a ter nota máxima Próximo Texto: Haddad diz que avaliação era "festa" na era FHC Índice
|