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SSP diz não divulgar ranking de crime para não afetar mercado
Para Túlio Kahn, da Secretaria da Segurança Pública, rankings levam a "interpretações simplistas ou incompletas"
Hierarquizações de crimes influenciam o mercado imobiliário, o preço dos seguros e a auto-estima da população, diz o sociólogo
LUIS KAWAGUTI
DA REPORTAGEM LOCAL
A Secretaria da Segurança
Pública de São Paulo afirmou
ontem que não divulga rankings de violência para evitar
"leitura simplista" dos dados e
não influenciar o mercado imobiliário, o preço dos seguros e a
auto-estima da população.
A afirmação foi feita pelo o
sociólogo Túlio Kahn, da CAP
(Coordenadoria de Análise e
Planejamento), órgão da secretaria, em entrevista convocada
pela pasta após a Folha ter publicado na edição de ontem o
"mapa da violência".
Antes de trabalhar para o governo, Kahn atuou em núcleos
de estudos que costumavam divulgar rankings de criminalidade. "Na época, eu não tinha noção do impacto que causavam
na auto-estima das pessoas que
moram nesses lugares, no valor
de seguros de automóveis, no
valor dos imóveis da área."
Kahn disse seguir a filosofia
de órgãos estatísticos de outros
países de não usar rankings e
citou relatório do FBI, a polícia
federal dos EUA: "Essas hierarquizações levam a interpretações simplistas ou incompletas, que freqüentemente criam
percepções enganosas que afetam negativamente algumas cidades e seus residentes".
Embora o governo diga não
querer influenciar preços, hoje,
segundo a Folha apurou, as seguradoras já cobram até 20%
mais por seguros de veículos
que pernoitam em áreas com
maior incidência de roubos e
furtos, como Perdizes, Pinheiros e Lapa, na zona oeste. Elas
dispõem de amplos estudos sobre a casuística e estipulam
preços com base nesses dados.
Leitura simplista
Na entrevista, o sociólogo
disse que os números de criminalidade publicados pela Folha
estão corretos, mas seriam
"uma leitura simplista" por não
levar em conta dados populacionais e demográficos. Segundo ele, isso gera "interpretações equivocadas" sobre a incidência de crimes na cidade.
O mapa da violência publicado pela Folha, com o ranking
dos principais tipos de crime
por distrito policial, foi apresentado exatamente como
consta em documentos oficiais
usados pela polícia para definir
táticas de combate ao crime.
Desde 2002, a Folha tem solicitado ao governo paulista informações sobre a violência estratificadas por delegacias, mas
a resposta sempre foi negativa.
Em sua argumentação, Kahn
afirmou que os distritos policiais que formam o chamado
"triângulo da morte" -100º DP
(Jardim Herculano), 47º DP
(Capão Redondo) e 92º DP
(Parque Santo Antônio), na zona sul-, que registraram o
maior número absoluto de assassinatos no segundo trimestre, ficariam em 7º, 29º e 22º
colocações, respectivamente,
na contagem da secretaria.
Marcos Carneiro Lima, delegado do DHPP (Departamento
de Homicídios e de Proteção à
Pessoa), afirmou, na mesma
entrevista, que a região do 100º
DP, onde houve mais homicídios, "vem reduzindo continuamente seus índices de criminalidade, assim como a cidade como um todo, que registrou queda de cerca de 70% nos
assassinatos desde 1999".
Ontem, o governador José
Serra (PSDB) comentou os dados. "Estamos trabalhando em
todas as áreas. Na média, a criminalidade tem caído verticalmente. Temos taxas de homicídios parecidas com a de países
desenvolvidos."
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