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FAMÍLIA
A maioria dos adultos ainda patina diante de perguntas e cenas produzidas pela curiosidade infantil sobre o sexo
Pais aprendem a lidar com sexualidade que engatinha
LULIE MACEDO
DA REVISTA
Sexualidade e infância não se
misturam, certo? Errado. Crianças não brincam de médico à toa:
a aventura do descobrimento começa nos primeiros meses, quando o bebê experimenta o prazer
de explorar o próprio corpo, e se
acentua nos anos seguintes, quando sua atenção se volta para o corpo dos pais e de outras crianças.
O comportamento exploratório
dos pequenos produz uma legião
de pais e mães desnorteados diante de perguntas e cenas inesperadas, e pouco importa que sejam
experiências que eles mesmos já
tenham tido na infância.
"Sexualidade, para o adulto,
tem caráter estritamente erótico e
está ligada apenas à realização
desses desejos. Essa idéia não é
compatível com a imagem que fazemos da inocência infantil. Por
isso muitos de nós preferem ignorar", explica Marcos Ribeiro, sexólogo e consultor do Ministério
da Saúde e autor de diversos livros sobre o assunto.
Mesmo pais que se definem como modernos e liberais "travam"
ao encarar cenas de masturbação
e brincadeiras que envolvem os
órgãos genitais. "Muitas vezes,
eles é que precisam de orientação
sexual", afirma o psicólogo Paulo
Rennes Marçal Ribeiro, coordenador do Núcleo de Estudos da
Sexualidade da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Na maioria das vezes, a distância entre a moral do universo
adulto e a ausência de pudor infantil resulta em
ensinamentos
cheios de "tira a
mão daí, aquilo
não pode, isso é
feio" -o que psicólogos, professores e sexólogos
condenam.
Mesmo diante de crianças de
três anos nuas brincando com
seus órgãos sexuais eles aconselham agir com naturalidade. "Vejo dois caminhos: 1) sair de perto
e, se for o caso, comentar o assunto com naturalidade depois, e 2)
aproximar-se e interromper educadamente a cena, convidando a
criança a fazer alguma outra atividade", sugere Marcos Ribeiro.
"Mas sem tom de bronca."
Reações extremadas não resolvem: a criança dificilmente abandonará o que lhe dá prazer, só o
fará escondido. Jogos sexuais entre crianças da mesma idade também não costumam oferecer risco
à integridade física dos envolvidos, segundo afirmam os especialistas. "A ameaça de ato sexual está apenas na mente adulta, já que
para as crianças menores a brincadeira tem a ver com a sensação
que o toque proporciona", diz
Marcos Ribeiro.
A dificuldade é conciliar a reação ideal com os valores morais
de cada família. E esperar que a
maior curiosidade passe. Por volta dos sete anos, as crianças entram na etapa chamada latência,
quando a sexualidade perde parte
da importância. Com a chegada
da fase escolar propriamente dita,
a criança começa a se interessar
por atividades que antes não estava preparada para desempenhar.
A psicóloga Maria Cecília aproveita para lembrar a definição da
OMS (Organização Mundial de
Saúde): "Sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à
presença ou não do
orgasmo. Ela influencia pensamentos, sentimentos, ações e a saúde
física e mental."
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