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Moradores preferem agilidade do MSF
Posto dos Médicos Sem Fronteiras dentro do complexo do Alemão torna atendimento mais acessível que rede pública
Por não prestar socorro de alta complexidade, ONG usa veículos adaptados para levar moradores a hospitais e postos de saúde vizinhos
DA SUCURSAL DO RIO
Um dos objetivos da atuação
dos Médicos Sem Fronteiras é
mostrar ao poder público que é
possível melhorar o atendimento às populações em áreas
conflagradas. No complexo do
Alemão, é o que o MSF tem feito: prestar socorro aos moradores e, diante de uma necessidade, levá-los ao hospital público.
Na opinião de Antônia Cristina da Silva, 32, moradora do
Alemão desde que nasceu, a diferença entre o atendimento
público e o do MSF é brutal.
"Aqui a gente é bem atendido.
Eles compreendem melhor a
gente. No posto de Del Castilho
[unidade de saúde mais próxima], o tratamento é diferente.
A gente fica horas na fila lá."
O MSF presta de 30 a 40
atendimentos médicos por dia,
além das consultas com psicólogos. Ao chegarem, os pacientes recebem um cartão vermelho, amarelo, ou branco. A cor
define a prioridade e o tipo de
atendimento e, quando o posto
não está preparado para atender algum problema, o paciente
é orientado ou reencaminhado
para hospitais da rede pública.
Ao todo, mais de 20 profissionais -remunerados- prestam o atendimento diário, incluindo quatro médicos, dois
enfermeiros, dois psicólogos e
agentes comunitários de saúde.
Os dois psicólogos do posto
atendem a cerca de oito pessoas por dia. Cada pessoa tem
direito a um total de 15 sessões,
para que se possa atender a um
número maior de moradores.
O posto do MSF no Alemão
está montado dentro de uma
das favelas do complexo -a Fazendinha. Isso permite que o
atendimento seja mais rápido e
acessível a moradores com dificuldade de locomoção ou sem
condições de pegar ônibus.
Apesar dos riscos, até agora
os profissionais do MSF dizem
não ter presenciado tiroteios
ou situação grave de violência.
Milena Osorio, do MSF, diz
que a organização escolheu
atuar no Alemão depois que o
local ficou marcado, no ano
passado, por um violento confronto entre a polícia e o tráfico, que resultou em 19 mortes.
Ela afirma que, mesmo não
fazendo atendimento de alta
complexidade, o primeiro atendimento de emergência pode
salvar a vida de um morador.
Como as ambulâncias tradicionais não sobem o Alemão por
causa das vielas e barricadas do
tráfico, o MSF utiliza kombis
para chegar aos moradores e levá-los aos hospitais públicos.
"Sou hipertensa e, certa vez,
passei muito mal. Não pude
chegar até aqui, mas eles mandaram uma ambulância na minha casa", conta Antônia.
"Nada de óculos escuros"
Tão logo o repórter da Folha
subiu na kombi do MSF, que o
levaria ao posto do grupo no
complexo do Alemão, o motorista alertou: nada de cinto de
segurança ou óculos escuros,
pois é preciso estar preparado
para sair do carro em situações
de risco e deixar os olhos visíveis para evitar problemas.
Os veículos do MSF, além da
identificação do grupo em letras garrafais, levam sempre
um adesivo em forma de círculo com o símbolo de uma arma
sob uma faixa vermelha atravessada, uma tentativa de evitar que o veículo seja confundido ou atingido por balas.
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