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SAÚDE
Efeitos prejudiciais de raios ultravioleta são cumulativos; entidade faz campanha de prevenção a câncer de pele
Criança ao sol tem risco a longo prazo
Greg Salibian/Folha Imagem
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O garoto André, que costuma brincar todos os dias no parque Ibirapuera, na zona sul de São Paulo, e não usa protetor solar |
AURELIANO BIANCARELLI
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
Quantas vezes, em domingos
modorrentos, nos sentimos felizes ao constatar que lá fora está
chovendo? Num país tropical, de
sol todo dia, chuva, para os adultos, é um passaporte para uma
folga com direito a não fazer nada.
Essa regra não vale para crianças e adolescentes: eles querem
sol o tempo todo, e a qualquer
preço. Sol é luz. E quem vai preferir sombras a um dia iluminado?
Pois saiba que um movimento
médico, cada vez maior no mundo todo, está informando às pessoas, especialmente às crianças e
adolescentes, que a sombra é mais
protetora que a luz.
Essa pregação aparentemente
"vampiresca" está fundamentada
em pesquisas e na epidemiologia.
O Inca (Instituto Nacional do
Câncer), do Ministério da Saúde,
informa que o câncer mais frequente no país, o da pele, em 90%,
dos pacientes é provocado pelo
sol excessivo. A doença fará
82.155 vítimas neste ano.
Até os 18 anos, uma pessoa recebe 80% do sol que tomará durante
toda a vida. Por isso, os principais
alvos da prevenção são jovens e
crianças -como o menino André, 2, que vai todo dia ao parque
do Ibirapuera com a mãe, brinca e
corre o tempo todo sob o sol, mas
não usa filtro solar.
O câncer da pele ainda é raro na
infância e adolescência. O problema é o efeito a longo prazo.
"Os efeitos dos raios ultravioleta
[UV] sobre a pele são cumulativos, e os resultados podem aparecer 20 ou 30 anos depois. Como
crianças e adolescentes não sabem disso, e adoram brincar e
correr ao sol, cabe a nós, adultos,
cuidar para que se protejam", diz
Gilles Landman, presidente do
GMB (Grupo Brasileiro de Melanoma, o mais agressivo câncer da
pele), entidade que está lançando
um programa de prevenção que
se estenderá por um ano.
"Quem ama, protege" é o slogan
da nova campanha, que traz o desenho de um menino protegido
por camiseta, chapéu e a sombra
de uma mão cuidadora.
"Além disso, a faixa etária de incidência do câncer vem diminuindo. Antes era a partir dos 50
anos, hoje já aparece aos 40", afirma Carlos Eduardo Alves, chefe
da seção de Dermatologia do Instituto Nacional do Câncer.
Vitamina D
O sol participa na transformação da vitamina D, fundamental
para o organismo em todas as idades, mas especialmente entre
crianças, pois auxilia no crescimento. Segundo Landman, para
todas as pessoas, "15 minutos, três
vezes por semana, são suficientes
para tirar do sol os benefícios."
Segundo a dermatologista Francisca Regina Oliveira Carneiro,
coordenadora do departamento
de Dermatologia Pediátrica da
Sociedade Brasileira de Dermatologia, neste ano a Academia Americana de Pediatria apontou que
os benefícios da exposição solar
para a síntese da vitamina D em
crianças são muito pequenos em
relação ao risco da radiação. "Recomendam outros recursos que
ajudam na síntese, como a alimentação."
Apesar de alguns dermatologistas não defenderem o uso de filtro
solar em bebês, pelo produto poder causar irritação, na Austrália,
outro país ensolarado, já recomenda-se esta proteção, afirma
Carneiro.
Colaborou Greg Salibian, repórter fotográfico
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