|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
"Política da prefeitura é universalizante", diz secretária
DA REPORTAGEM LOCAL
A política da prefeitura é universalizante. É assim que a secretária
municipal da Educação, Maria
Aparecida Perez, rebate as críticas
da falta de política pedagógica,
desperdício de recurso com uniforme e de material inadequado.
Leia, a seguir, trechos da entrevista concedida por Perez.
Folha - Como a sra. encara as críticas sobre a falta de uma política
pedagógica da secretaria que
abranja todas as 31 coordenadorias de educação de São Paulo?
Maria Aparecida Perez - Isso pode ter ocorrido no início da administração atual. Mas toda proposta pedagógica da secretaria, feita
há dois anos, foi construída em
conjunto com as coordenadorias
e discutida com a rede.
Fizemos cadernos e seminários
para discutir o currículo, o planejamento de cada escola, a gestão
democrática e os conceitos de
CEU. Política pedagógica não é algo que se coloca por decreto. É
preciso ter adesão.
Folha - Como a sra. compara o investimento nos programas de educação inclusiva com aqueles feitos
em formação e em capacitação de
professores, por exemplo?
Perez - Estamos investindo no
aluno. Não adianta ter um professor com tudo e não ter nem o aluno na escola para ter aula. Para ter
um ensino de qualidade, é preciso
investir no aluno, nos prédios e na
formação dos professores.
Cerca de 3.000 professores da
rede que não tinham curso superior na área pedagógica agora estudam custeados pela prefeitura.
Há também 3.600 auxiliares de
desenvolvimento infantil fazendo
curso para se tornarem professores de desenvolvimento infantil,
uma carreira recém-criada que
prevê um aumento de salário.
Criamos um programa em que
faculdades oferecem bolsas em
troca de isenção do ISS. Fora a
formação da própria secretaria,
que dá capacitação às equipes pedagógicas das 31 coordenadorias
de educação.
Folha - Os programas de educação inclusiva são considerados por
críticos como assistencialistas. Como a sra. os vê?
Perez - A questão é a da gratuidade do ensino. Não adianta
construir escola e falar que há vaga para todos sem dar garantias
de acesso e de permanência. São
Paulo tem 2,5 milhões de desempregados. Onde estão? Na periferia. Onde está a maioria dos alunos e das escolas? Na periferia.
É preciso pensar na oferta do
serviço público para a conjuntura
atual. Esses programas não são
assistencialistas, mas compensatórios. Assistencialista é o que é
dado sem oferecer capacidade de
geração de renda no futuro.
Folha - Alguns professores da rede dizem que parte do material distribuído pela secretaria é inadequado, como brochuras para o ensino fundamental e canetas esferográficas para o ensino infantil.
Perez - Estamos fazendo adaptações no material. E não é que ele é
inadequado. Isso é uma questão
de gosto. O material é básico. E,
neste ano, a escola receberá um
kit de apoio pedagógico, baseado
em um levantamento feito com os
professores, que terá papéis, pincéis, papel cartão, cartolina, argila
e várias outras coisas que antes
eram requisitadas aos alunos.
Folha - Alguns alunos com melhores condições não usam o uniforme
da prefeitura. Como trabalhar com
o conceito de universalidade numa
rede com necessidades diferentes?
Perez - Se você for atender ao
gosto de todos, fica difícil estabelecer um critério. É preciso dar
condições iguais a todos. É um direito e um dever do Estado oferecer o material, o transporte e o
uniforme, ou seja, as condições
para um aluno ir à escola. Se você
der uniforme só para quem precisa, acaba criando condições vexatórias para o aluno. Estamos devolvendo em serviço o que a população pagou em impostos.
Folha - Não seria mais viável cada
escola administrar essa verba de
acordo com suas necessidades?
Perez - A política da prefeitura é
universalizante. Se são criados
critérios locais de atendimento,
você pode favorecer um sistema
de clientelismo com um nível de
pressão muito complicado.
Texto Anterior: Meta de 45 CEUs não será cumprida Próximo Texto: William, 8, anda uma hora até a escola Índice
|