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Cada docente é responsável por até quatro disciplinas, mesmo sem formação em todas as matérias
TV é "auxiliar" de professor no Ceará
KAMILA FERNANDES
EDUARDO DE OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA
É em condições precárias que
alunos de escolas estaduais cursam o ensino médio. No Ceará,
lidam com o improviso de professores sem formação específica para as disciplinas. No Rio
Grande do Norte não é muito diferente -um professor formado em educação física dá aulas
de biologia, geografia e química.
As teleaulas são a principal
fonte de informação e servem de
apoio para exercícios e orientação dos professores de 278.205
alunos do Ceará, segundo o Censo Escolar de 2002. O telensino
existe no Estado desde 1974,
quando foi adotado como sistema emergencial para atender locais do interior onde não havia
professores suficientes. O método, porém, foi expandido para
toda a rede estadual em 1994.
Cada professor pode ser responsável por até quatro disciplinas: na área de Linguagens e Códigos, ensina português, inglês e
artes; na de Matemática e Ciências, ensina matemática, biologia, física e química; na de Cultura e Sociedade, leciona história,
geografia e religião. O problema
é que o acúmulo de disciplinas
nem sempre coincide com os conhecimentos do docente.
Tânia Sabóia, professora de
uma turma da 7ª série, tem formação em pedagogia e cuida da
parte de Linguagens. "Tenho dificuldade em dar a aula de inglês
e acabo ficando muito dependente do dicionário. O problema
maior é a pronúncia."
Com Ana Paula Ferreira da Silva acontece o contrário. Ela também é formada em pedagogia e
tem fluência em inglês, mas dá
aulas de matemática. "Traduzo
as apostilas para as outras professoras. Uma ajuda a outra."
Nas salas de aula, algumas com
até 46 alunos, cada teleaula,
transmitida pela estatal TVC,
dura 15 minutos.
Além dos livros didáticos, os
estudantes recebem manuais do
telensino, geralmente insuficientes para o número de alunos, que têm de sentar em grupo
para poder acompanhar as aulas. "Falta concentração para
muitos estudantes", avalia a diretora de escola Luiza Holanda
Monte.
"Noção básica"
O Rio Grande do Norte tem
hoje um déficit de 984 professores na rede estadual de ensino.
Há 77 vagas em 26 municípios
para os quais não há interessados. É o caso da escola estadual
Olímpio Teixeira, em São Miguel do Gostoso (106 km de Natal), que tem cerca de 400 alunos.
Lá, faltam quatro professores
para dar aulas de física, química,
matemática e inglês, e a escola se
vira com o que tem à mão.
Formado em educação física,
Luiz Eduardo de Alvarenga
Quarentei hoje dá aulas de biologia, geografia e química para
alunos do primeiro ano do ensino médio. "Como não tenho formação específica para essas
áreas, o andamento da aula é um
pouco mais lento. As aulas que
dou são apenas sobre noção básica", avisa.
A secretária estadual da Educação, Maria do Rosário de Fátima Carvalho, diz que não se trata do único caso no Estado. "No
Brasil inteiro tem esse tipo de situação", afirma.
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