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Novos restaurantes na capital paulista mudam o mapa gastronômico dos ricos, poderosos e famosos
GASTROBADALAÇÃO embala São Paulo
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
O "homem" está chegando.
Porque o "homem" está chegando, monta-se uma verdadeira
operação de guerra, para fazer o
"boeing", como o lugar é chamado nas internas, funcionar à perfeição. Matias Medeiros, o maitre
principal, aponta com o queixo
uma batuta imaginária para os 110
garçons do salão que comanda.
Fabiano Aurélio, o sommelier,
já sabe que terá de escolher entre
as mais de 900 da adega uma garrafa de vinho tinto do Rioja, de
preço modesto -o "homem" é
famoso por sua mão fechada. Afinal de contas, é a foto do "homem" que está lá com o dono do
lugar no salão de entrada, feita antes mesmo da inauguração oficial.
Ao cruzar o corredor principal
em direção à mesa discreta de sua
preferência, no interior à esquerda, cruzará com gente como o
empresário Benjamin Steinbruch,
que aparece nos almoços das sextas e senta fora, a socialite Lucília
Diniz, que só come salada, e o
músico/escritor Tony Belotto,
exercendo seu lado enólogo com
a mulher, a atriz Malu Mader.
O "homem" em questão é o ex-presidente Fernando Henrique
Cardoso; o lugar, o restaurante A
Figueira Rubaiyat, de Belarmino
Iglesias, localizado há dois anos
onde ficava a Cleusa Presentes,
tradicional ponto de compras da
elite paulistana nos Jardins do
qual só restou a árvore, no mesmo
local há 80 anos, enorme, frondosa, que se estende sobre o salão.
Se o Figueira caminha para ser o
que o Massimo foi nos anos 80,
um lugar divertido, com boa cozinha, que reúne um elenco bem
misturado e equilibrado de poder, dinheiro e gente bonita, ele é
só a ponta do iceberg de um esporte paulistano por excelência: a
gastrobadalação, ou a badalação
com viés gastronômico.
Cotovelos democráticos
São Paulo, a cidade, conta com
cerca de 50 mil restaurantes, que
faturam meio bilhão de reais por
mês, ou mais de três vezes o orçamento do Programa Fome Zero
para o mesmo período.
Destes, menos de 500 se reúnem
na Abredi, a Associação de Bares e
Restaurantes Diferenciados. E
destes, só 50 importam, segundo
os preceitos da gastrobadalação.
E os que importam são lugares
geralmente de porte médio ou pequeno e nem de longe os que mais
faturam. "O dono do Fogo de
Chão ganha muito mais dinheiro
do que eu", dispara Rogério Fasano, o homem por trás do grupo de
maior prestígio gastronômico do
Brasil, que leva seu sobrenome.
São dele o Fasano (o templo-sede, atualmente fechado e com reabertura prevista para julho no novo Hotel Fasano), o Parigi, o Gero,
o Gero carioca, o Gero Caffé, o
Caffé Armani, a Forneria San
Paolo e o Baretto (também a reabrir). São todos hors-concours.
Todo mundo que é, quer ser ou
foi alguém em alguma área já passou por um deles alguma vez.
Outra instituição é o "Grupo
Sérgio Kalil", as casas sob o guarda-chuva do paulistano descendente de libaneses de 40 anos em
sociedade com as chefs Lygia Lopez e Maria Helena Guimarães: o
Ritz (22 anos, 48 lugares), o Spot
(10 anos, 120 lugares), o Ritz Itaim
(3 anos, 90 lugares) e o novíssimo
Hotel Lycra (um mês, 90 lugares).
Todos estão constantemente
cheios e, se acotovelando democraticamente nas filas de espera,
podem ser encontrados nomes
como o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), a atriz Luana Piovani, o estilista Fause Haten e o
anônimo empresário de Ribeirão
Preto.
"Todos são tratados igualmente
e sentados conforme a ordem de
chegada", diz Kalil.
Novos lugares
Nos últimos meses, a hegemonia no destino do "beautiful people" vem sendo quebrada por lugares como o Skye, plantado no
topo do belo Unique Hotel, na
Avenida Brigadeiro Luiz Antônio,
e o restaurante do Emiliano, o primeiro "hotel-butique" de São
Paulo, na rua Oscar Freire.
Aqui, a qualidade da cozinha
importa tanto quanto o brilho dos
comensais, e ambos têm o mesmo
peso do visual do lugar, composto
pelo binômio arquitetura + decoração. O Skye saiu das mãos de
Ruy Ohtake e o Emiliano é obra
de Arthur de Mattos Casas, e ambos são projetos ousados.
O segredo do sucesso desses lugares é um segredo mesmo para
seus donos. "Quem vem aos nosso restaurantes quer ser tratado
como gente normal", arrisca Sérgio Kalil. Quer também encontrar
uma comida de qualidade constante e "gente como a gente", que
é a receita do Spot, por exemplo.
Ou, como resume a top model
gaúcha Mariana Weickert, 21, que
passa três meses em São Paulo, o
resto do ano entre Paris e Nova
York e já é frequentadora do
Lycra: "Quando ouvi dizer que
era do Kalil, já quis vir. Sabia que
ali estaria com o meu pessoal".
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