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SAÚDE
Defeito faz com que dieta e exercícios não sejam suficientes para reduzir taxas; remédios auxiliam combate
Genética também explica colesterol alto
DA REPORTAGEM LOCAL
Nem só a má dieta e muita preguiça explicam os altos índices de
colesterol -a genética, sempre
ela, também é justificativa para
aqueles casos em que uma vida
saudável não faz diminuir as taxas
de gorduras no sangue.
"O defeito genético ou está onde
o colesterol é produzido, no fígado, ou onde é absorvido, no intestino", resume o cardiologista Raimundo Marques do Nascimento,
diretor-executivo da Sociedade
Brasileira de Cardiologia. "A
maioria das pessoas [com colesterol alto] tem algum deles."
A comerciante Célia Caram, 46,
passou quatro anos cuidando da
alimentação e das caminhadas
diárias, mas as taxas de colesterol
não caíam o suficiente. Meio
comprimido por dia e elas cederam -Célia não abandonou
bons hábitos. "Só não faço tanto
esforço no fim de semana."
O alto índice de colesterol -cujo dia de combate é "celebrado"
hoje- está ligado à formação,
dentro das artérias, de placas de
gordura que estreitam a passagem do sangue (aterosclerose).
São fatores de risco para infarto
do coração e derrame, doenças
que mais matam no Brasil.
O mecanismo dos defeitos genéticos que geram as altas taxas
foi explicado em 1976 por cientistas norte-americanos, trabalho
que rendeu um prêmio Nobel dez
anos depois aos pesquisadores.
Segundo os estudos, pelo menos uma a cada 500 pessoas tem
níveis elevados de colesterol no
sangue em razão de uma doença
genética chamada hipercolesterolemia familiar, causada pela deficiência ou má função de receptores de LDL (o colesterol "ruim",
veja quadro), que faz com que seja
retirado mais lentamente do plasma (parte líquida do sangue).
O problema está associado a
75% dos infartos antes dos 60
anos, mesmo em pessoas que têm
hábitos de vida saudáveis.
Em uma outra forma, muito
grave e muito rara (1 caso para 1
milhão de pessoas), os receptores
podem não existir -o que causa
mortes antes dos 20 anos.
O cardiologista Raul Dias dos
Santos, médico-assistente da Unidade Clínica de Lípides do Incor
(Instituto do Coração) de São
Paulo, diz que recentemente colocou uma ponte de safena em uma
menina de 13 anos que, portadora
da doença rara, tinha índices de
colesterol perto de 800 mg/dl.
Santos diz que o ideal é que,
diante de uma suspeita da doença, seja investigada toda a família.
Foi o aconteceu na casa da nutricionista Laila Shayboun Ghtait, de
ascendência libanesa.
Pais, irmãos, sobrinhos, tios e
primos possuem a forma heterozigótica da hipercolesterolemia (a
mais freqüente) e se tratam com
remédios de última geração, dieta
e exercícios.
"Todos se cuidam bastante.
Nunca tivemos morte na família
associada à doença", diz.
Outra forma de defeito genético
é o que faz com que os receptores
de LDL não sejam reconhecidos,
explica Raul Cisternas, do Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina da Santa Casa e
um pesquisador do assunto.
De acordo com Cisternas, o
consenso da Sociedade Brasileira
de Cardiologia é que pessoas que,
aos 20 anos, tenham colesterol total (soma do "bom" e do "mau"
colesterol) igual a 200 mg/dl de
sangue devem refazer o exame só
a cada cinco anos.
Quem tem antecedentes de obesidade, hipertensão e infarto do
coração na família, no entanto,
deve fazer também as frações de
colesterol (medir cada um dos tipos), segundo ele.
Ao atingir a zona de altíssimo
risco, de 240 mg/dl, são necessários uma dieta radical, exercícios
e, se nada melhorar em seis meses, os medicamentos.
As drogas contra o colesterol
rendem hoje US$ 200 bilhões em
vendas no mundo, o que explica a
disputa de empresas para melhorar as suas formas de apresentação e as associações de medicamentos. O tratamento pode chegar a R$ 150 mensais.
No Brasil, essas drogas são distribuídas de maneira restrita pelo
Sistema Único de Saúde (SUS).
Nascimento, da sociedade de
cardiologia, lembra que vida saudável, apesar de não baixar as taxas quando elas já estão altas em
alguns casos, pode prevenir o
aparecimento do problema ou, ao
menos, fazer com que seja necessária dose menor de remédios.
Ele diz que estudos mostram
que os japoneses que vão morar
nos EUA (a terra do "fast-food" e
da "junk-food") estouram seus
índices de colesterol. Pode ser que
sempre tivessem a doença, mas
não os seus "facilitadores".
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