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DANUZA LEÃO
Certos homens
Como são diferentes os homens; aliás, as mulheres também, e muito diferentes são os
amores.
Nas relações, há sempre um código, e um dos objetivos mais almejados é ter uma relação de
companheirismo e cumplicidade, como costumam dizer.
Eles vão se conhecendo e combinando que tudo deverá ser,
sempre, resolvido em conjunto:
onde vão passar as férias, se -e
quando- vão ter um filho, de
que cor vai ser o sofá, se vão ao
cinema ou preferem ficar em casa vendo a novela. Nenhum dos
dois jamais aceita um convite,
seja para o que for, sem consultar
o outro -e ai de quem aceitar
sem perguntar antes.
Esse tipo de união deveria dar
certo, sob a aparência de democracia, e até dá, mas em termos.
Por mais que seja cultuada, a democracia entre os humanos
-aliás, na natureza também-
não existe: manda o mais forte
porque a vida, justa ou injusta, é
assim. Pode acontecer de o mais
forte, exatamente por se saber
mais forte, fingir às vezes e permitir que o outro pense -apenas pense- que também tem o
direito de existir. Ledo engano:
essa concessão é feita apenas para ter alguma paz, para que o
fraco não perceba que é tão na-da e um dia não se revolte e vire
a mesa. Estamos falando apenas
de relações humanas, claro, e, se
o mais forte souber administrar,
esse tipo de casal tem tudo para
ser feliz por muitos e muitos
anos.
Mas existe um tipo de homem
que entra em sua vida sem pedir
licença e faz você muito feliz
-às vezes-, mas a maior parte
do tempo te consome. Ele não livra a cara: não pode ver uma
mulher bonita sem que você perceba o que ele está pensando,
sentindo e tramando. Não que
diga ou faça alguma coisa mais
clara, mas dá para perceber
quando ele está consumido pelo
desejo -lembra quando esse desejo era por você?-, o que é mais
grave do que se tivesse sido apanhado em flagrante delito, já que
contra o desejo não se pode lutar.
Quando uma mulher gostosa
entra na sala, você já sabe o que
te espera e como vai terminar a
noite: ou numa discussão, ou numa cena de silêncio explícito.
Agora, o mais inacreditável:
raramente uma mulher deixa
um homem desses e são exatamente eles que, um dia, desaparecem para sempre. E tem mais:
como elas sofrem quando são
deixadas, como têm saudades. É,
mulher que gosta de homem assim é porque gosta de sofrer
-tem de tudo neste mundo.
Mas existe um outro tipo perigoso: o que faz você tremer -tremer de emoção- quando ele
chega perto. O porquê é sempre
um mistério, mas na presença
dele você não fuma -sem que
ele precise pedir-, não diz gracinhas além da conta e um olhar
dele é suficiente para que fique
muda.
Eles são os piores (ou melhores); nunca discutem por bobagem e não tentam, jamais, impor
suas vontades. Quando você diz
onde prefere jantar e a qual cinema quer ir, está na verdade fazendo o que ele quer; um homem
desses não precisa falar para ser
compreendido (e obedecido).
Para viver com ele é preciso ter
uma sensibilidade à flor da pele
e, se um dia, você disser alguma
coisa de que ele não goste ou agir
de maneira menos adequada,
pode ser que ele vá embora em silêncio, sem uma briga, uma só
discussão, e você só vai entender
onde foi que vacilou muito depois.
E tem mais: desse tipo de homem a gente nunca esquece.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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