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Rede é usada para achar emprego
DA REDAÇÃO
"Com a ajuda da internet, ninguém precisa gastar tanto com
condução para ir atrás de emprego." A monitora Francinete calcula que 50% dos frequentadores do
infocentro do Jardim São Luís são
adultos à procura de colocação e
de reciclagem profissional. Há, segundo ela, uma grande demanda
por envio de currículos.
O acesso à rede significa, nesse
contexto, economia dos recursos
da população de baixa renda e encurtamento das longas distâncias
que separam a periferia das regiões centrais da cidade.
Francinete estima em uma hora
o tempo médio para chegar ao
centro da cidade. São necessárias
duas conduções tanto na ida como na volta. Os deslocamentos
implicam um gasto de até R$ 6.
Esse valor tem um forte impacto
no orçamento das famílias da região, cujos chefes de domicílio
têm renda média mensal de R$
807 (55% da média da capital, segundo dados do Censo 2000).
O projeto GMD (Gestão de Mídias Digitais), no qual Francinete
está integrada, é composto -como as demais atividades da Cidade do Conhecimento- de encontros na rede e na própria USP.
O GMD reúne 170 monitores de
postos públicos de acesso gratuito
à internet (infocentros do governo estadual e telecentros da prefeitura). A grande maioria deles
atua na periferia da capital.
Os dois primeiros encontros
dos quais Francinete participou
na Cidade Universitária trouxeram reflexos em seu trabalho.
"A outra metade do público daqui é composta por crianças. Elas
estão sempre à procura de diversão nova na rede. Eu não tinha
muita paciência. Hoje, mudei minha forma de me relacionar com
elas aqui no infocentro."
A monitora diz que passou a enxergar com mais clareza as oportunidades que estão sendo criadas
pela tecnologia. As crianças devem ser bem preparadas para a
nova realidade. "Todo esse desenvolvimento vai ser para elas."
Zona leste
A monitora Érika Regina Silva
Alves, 19, do infocentro Vila Conceição, na zona leste, presta assistência a um público que se divide
em três grupos: os que querem
enviar currículos pela internet, os
que preparam trabalhos escolares
e os que (surpresa!) jogam xadrez.
"Todos pensam que é um jogo
praticado pelas classes média e alta. Não é bem assim. Aqui temos
jogadores de ponta, que fazem
pesquisa na internet para se manterem atualizados", diz Érika.
O posto do Acessa São Paulo fica a cerca de uma hora e meia do
centro de São Paulo. Os chefes de
domicílio da Vila Curuçá, da qual
a Vila Conceição faz parte, têm
renda mensal média de R$ 654
(44% da média da capital).
Érika está empolgada com as
duas reuniões do GMD das quais
participou. "É superimportante.
Surgem novas idéias em conjunto
com os novos monitores. Isso fortalece a nossa rede."
Após os encontros na Cidade
Universitária, Érica está ajudando
a implantar um grêmio recreativo
dos usuários do infocentro. "Um
dos nossos objetivos é encaminhar às autoridades as queixas
dos moradores."
Os monitores do GMD devem
formar grupos para desenvolver
projetos. Érica idealiza um na
área cultural, que englobe várias
modalidades, como teatro, música e dança. Ela quer usar a web como fonte de informação e de captação de patrocínio.
Adriano Dias Garrido, 27, que
trabalha como monitor no mesmo infocentro, surpreendeu-se
com a magnitude que o projeto de
inclusão digital pode assumir. "É
algo que demanda tempo e precisa ser bem trabalhado."
Conteúdo próprio
O GMD não tem como objetivo
apenas reforçar os laços da internet da periferia. A idéia é induzir a
formação de conteúdo pelas comunidades. Hoje, a web se dirige
a camadas específicas da sociedade, de poder aquisitivo mais alto.
"Qual é a internet útil para as
comunidades pobres? Elas é que
têm de decidir essa questão. Não
basta apenas o acesso. A inclusão
se dá com a produção do conteúdo da rede", diz Ricardo Kobashi,
37, presidente da organização
não-governamental CDI-SP (Comitê para a Democratização da
Informática de São Paulo).
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