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ENTREVISTA
Holandês propõe redução de danos no uso de droga
AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O holandês Ernst Buning, diretor da Associação Internacional
de Redução de Danos, é o pioneiro e principal líder de um movimento inovador no combate às
dependências químicas. Ele defende a idéia de que reduzir os danos do uso de drogas é mais positivo, importante e factível do que
tentar acabar com a dependência
ou exigir a abstinência. Empregada inicialmente entre usuários de
droga injetável, oferecendo seringas novas e informação, a prática
derrubou a menos de 10% a infeção pelo HIV num grupo onde
mais de 50% se infectavam.
O desafio agora é aplicar o mesmo conceito para o abuso do álcool, problema responsável por
cerca da metade dos acidentes e
violências em todo o mundo. Segundo a OMS (Organização
Mundial da Saúde), que comparou os danos globais provocados
pelo álcool, pelo cigarro e pelas
drogas ilícitas, a bebida é responsável por 50%, o tabaco por 49% e
as drogas ilegais por 1%.
"O álcool não está recebendo a
atenção que precisa por parte da
comunidade, das lideranças e dos
políticos", afirma Buning.
Ele foi um dos incentivadores
da Primeira Conferência Internacional sobre Consumo de Álcool e
Redução de Danos que aconteceu
há duas semanas no Recife.
Abaixo, trechos da entrevista
que concedeu no encontro:
Folha - Por que as práticas de redução de riscos ainda são pouco
adotadas para o álcool?
Ernst Buning - Nosso desafio
agora é criar um movimento para
transformar o álcool em um assunto de todos, assim como acontece com o sexo. Mas não focar na
substância álcool, e sim nas situações e pessoas que sofrem danos
por causa do álcool. A idéia não é
diminuir o consumo, mas diminuir o consumo em certas situações. Por exemplo, se beber, não
dirija. Mas se não vai dirigir, beber pode ser bom. Se tem um trabalho a fazer, beba depois.
A intenção não é ser moralista,
mas estimular as pessoas e a sociedade a serem responsáveis, a
reconhecerem quando o álcool
será um risco. A idéia é trazer a
responsabilidade para as pessoas,
não esperar pelo Estado. Este é
um conceito de cidadania que deve ser ensinado às crianças.
Folha - Diminuir riscos é função
da pessoa e da sociedade?
Buning - A redução de danos
precisa se transformar num movimento social em que os direitos
humanos são importantes. É preciso que os grupos afetados pelo
álcool se envolvam e que haja um
envolvimento coletivo, levando a
um controle social positivo. Ninguém deveria se sentir mal em dizer a um colega: "Não dirija, você
não está em condições".
Não tem nada a ver com moralismo, é simplesmente porque você não quer que ele morra nem
que mate.
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