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SAÚDE
Tratamento depende da origem do problema e vai desde a retirada do açúcar da dieta até exercícios de reabilitação
Tontura pode ser causada por 300 doenças
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Treze de outubro de 2001 é uma
data que a comerciante Eli Lopes,
60, não esquece. Nesse dia, ao
acordar pela manhã, sentiu-se
tonta, sem ter equilíbrio para levantar da cama. Em seguida, vieram os zumbidos no ouvido, os
enjôos e os vômitos. Foi levada às
pressas ao hospital, onde permaneceu internada por dez dias.
O diagnóstico foi uma crise de
labirintite aguda. Desconfiada da
avaliação do médico, Lopes decidiu procurar um outro profissional. Depois de uma batelada de
exames, soube que tinha uma alteração no metabolismo do açúcar. Por recomendação do otorrinolaringologista, parou de comer
doces e, desde então, nunca teve
mais os sintomas.
A associação da tontura à labirintite, como no caso da comerciante, é bem frequente. Mas, na
verdade, o que a maioria das pessoas chama de labirintite, pode
ser sinal de pelo menos 300 distúrbios que afetam o labirinto,
uma estrutura do ouvido interno
responsável pelo equilíbrio do
corpo. Essas doenças, chamadas
de labirintopatias, são responsáveis por 85% dos casos de tontura.
Segundo Mário Sérgio Lei Munhoz, chefe da disciplina de otoneurologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), o importante é que a pessoa procure
um otorrinolaringologista, profissional habilitado para fazer o
diagnóstico e indicar o tratamento correto para a tontura.
"Não adianta insistir em medicamentos para tirar o sintoma se a
causa não for atacada. É o mesmo
que dar remédio para a febre sem
saber o que a provocou", diz.
Em adultos, um dos distúrbios
mais frequentes do labirinto é a
doença de Ménière, a mesma que
desencadeou a tontura na comerciante Eli Lopes.
Segundo o otorrinolaringologista Ricardo Ferreira Bento, professor da USP, essa doença pode
ser causada por infecções virais,
alergias, distúrbios do metabolismo do açúcar, entre outros.
Em razão dessas alterações, afirma o médico, há uma concentração de líquido dentro do labirinto
e a pressão faz com que o paciente
sinta o ouvido sempre tapado,
além de provocar tonturas, náuseas e suor frio.
Outra doença bem recorrente
entre os adultos que sofrem de
tontura é a Vertigem Postural Paroxística Benigna (VPPB). Estruturas semelhantes a pedrinhas, localizadas nos canais semicirculares do labirinto, saem do lugar,
prejudicando o equilíbrio.
O distúrbio pode ser causado
por traumatismos, deficiências
circulatórias, aumento do colesterol, entre outros.
"É o caso típico de pessoas que
às vezes passam mal ao abaixar
para pegar alguma coisa no
chão", diz Munhoz.
Em alguns casos, segundo o
otorrinolaringologista Edgard
Rezende, do Hospital das Clínicas
de São Paulo, em vez de tomar
medicamento para o equilíbrio, é
possível fazer exercícios de reabilitação do labirinto. São feitos alguns movimentos na cabeça do
paciente para que as tais pedrinhas voltem ao lugar certo.
Foram esses exercícios que curaram a tontura que o estudante
de direito Felipe Mastrocolla, 23,
sentia após voltar de um coma de
quase um mês. Em 2001, ele caiu
de um muro de quatro metros e
sofreu traumatismo craniano. Ao
sair do hospital, sentia constantes
crises de tontura e enjôos.
"Um mês depois dos exercícios,
eu já estava ótimo, dirigindo carro", diz Mastrocolla.
As tonturas representam hoje a
terceira maior queixa nos consultórios, só perdendo para as cefaléias e as dores nas costas, segundo Rezende.
Afetam pessoas de todas as idades, mas são mais predominantes
entre as mulheres de 40 a 60 anos,
possivelmente, em razão das oscilações hormonais.
Não há estatísticas do problema
no Brasil. Segundo o Instituto Nacional de Saúde dos EUA, 42% da
população local está tendo ou já
teve tontura, 17% sofrem ou já sofreram com zumbido e 13% têm
alterações auditivas.
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