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"Tenho só meio litro de leite"
DO "AGORA"
A desempregada Fátima Glória
Ramos, 35, vive em um barraco de
madeira podre no distante Recanto Verde do Sol, no extremo da
zona leste paulistana. Seus quatro
filhos, com idades que variam de
cinco a 12 anos, não gostam do
cheiro exalado pelo casebre.
"Às vezes tenho vontade de vomitar de tanto fedor. Mas o mau
cheiro dá para suportar, a fome
não", disse Mateus, 8, filho de Ramos. "É muito triste ouvir isso de
um filho. Na minha geladeira tem
só meio litro de leite. Na despensa
tem fubá, feijão e açúcar. Não sei
nem o que vamos jantar", afirmou Ramos, chorando.
Ramos e seus filhos não recebem as doações feitas ao Banco de
Alimentos. "Cadastrei a associação em outubro. Até agora não
consegui um grão de arroz", disse
a diretora social da Associação
Centro Comunitário da 3ª Divisão e Adjacentes, Luzinete Costa
Silva, 32. Segundo ela, existem pelo menos 3.000 pessoas como Ramos vivendo na região de atuação
da associação. "Não entendo
quais são os critérios usados pela
prefeitura na escolha de quem vai
ou não receber os alimentos." O
mesmo inconformismo tem Djinalva da Silva Anjos, de uma associação de moradores do Parque
Europa (zona sul). "Também me
cadastrei e não deu resultado."
Já quem recebe os alimentos
doados à prefeitura se considera
privilegiado. É o caso da aposentada Severina Tabosa de Jesus, 86.
Assim que recebeu a doação, ela
se emocionou. Ela mora em um
barraco com a filha, o genro, quatro netos e três bisnetos, no mesmo bairro de Ramos. A família
ganhou arroz, feijão e fubá.
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