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EXCLUSÃO
Alcance das ações de transferência de renda chega à metade do prometido pelo governo; até dezembro, índice pode ir a 67%
Marta cumpre 54% de sua meta social
SÍLVIA CORRÊA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os programas de transferência
de renda criados pela administração de Marta Suplicy (PT) beneficiaram -até agora- metade da
população que a Prefeitura de São
Paulo disse que atenderia. Em dezembro, no final do mandato, o
governo terá chegado, no máximo, a dois terços da meta.
Em números absolutos isso significa que, desde junho de 2001,
quando os pagamentos começaram, 316.801 pessoas receberam
pelo menos uma vez o dinheiro
dos programas Renda Mínima,
Bolsa Trabalho, Começar de Novo e Operação Trabalho.
Há dois anos, no entanto, antes
das eleições para o governo do Estado, a administração municipal
anunciou que as bolsas beneficiariam, até o final de 2004, 589.057
famílias cujos chefes tinham renda inferior a um salário mínimo e
meio. Na prática, não aconteceu.
Agora, na melhor das hipóteses,
a ação chegará a 67% dessa meta.
Para tanto, o governo tem de pagar os benefícios a cerca de 80 mil
pessoas em 40 dos 96 distritos da
cidade. A Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade diz que isso acontecerá até junho -a quatro meses da eleição.
No comando dos programas sociais, o economista Marcio Pochmann, 41, secretário de Trabalho,
prefere avaliar o desempenho das
ações por outro ângulo: o da
abrangência geográfica. "Tínhamos o compromisso de chegar a
toda a cidade e vamos chegar.
Não há cota: fez o cadastro e atende às exigências, pagamos."
O cadastramento, no entanto,
foi aberto uma única vez em cada
distrito -em 50 deles, em 2001.
De lá para cá, o desemprego atingiu mais 250 mil pessoas na cidade, mas quem perdeu a renda depois que as inscrições terminaram
não teve uma segunda chance.
Pior: o cadastro único fez com
que simples erros de endereço,
por exemplo, tenham sido suficientes para excluir potenciais beneficiados -muitos dos quais
aguardam a bolsa até hoje.
Com o cobertor curto, a opção
pela expansão geográfica -que
garantirá ao PT o direito de dizer
que levou os programas a toda a
cidade- excluiu a possibilidade
de a prefeitura voltar aos bairros e
buscar esses carentes sumidos.
"Não ignoro o problema, mas
há limitação orçamentária, e escolhas têm inegavelmente de ser
feitas", diz Pochmann.
Alheia aos vizinhos excluídos,
dona Ana Maria, do Jardim Iguatemi (zona leste), está satisfeita.
Aos 32 anos e dois filhos, ela sorri
contando que, com os R$ 70 mensais do Renda Mínima, sustenta
as crianças e o marido e já comprou uma cama. "É pouco, mas já
não preciso pedir. Tem mês que
dá até para algumas bolachas."
Em histórias e números, o cenário dos programas sociais é de
contradições. São os maiores do
país, mas mal chegam aos excluídos da cidade. Injetam, a cada
mês, R$ 13 milhões em famílias
pobres -o suficiente para construir 12 escolões ao ano. Mas, se
todas tivessem recebido ajuda
ininterrupta, a média mensal de
repasse por beneficiado ficaria em
R$ 50 -pouco para uma cidade
na qual 311.318 chefes de família
não tinham renda em 2000 e onde
consumir as 2.280 calorias diárias
sugeridas pela Organização Mundial da Saúde custa R$ 80 ao mês.
A falta de impacto social é o
principal obstáculo no caminho
das políticas públicas. "No Brasil,
as ações não visam o pobre.
Quando visam, não o atingem.
Quando o atingem, não melhoram a vida dele", resume Marcelo
Neri, 41, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ).
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