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SAÚDE
Doença afeta mais mulheres acima de 40 anos, é detectada em estágio avançado em 70% dos casos e tem alta letalidade
Câncer do ovário tem diagnóstico tardio
DA REPORTAGEM LOCAL
Fique atenta para um diagnóstico de cisto ovariano se você tiver
mais de 40 anos. A partir dessa
idade, em razão da menopausa ou
da proximidade dela, cistos no
ovário são incomuns e podem ser
indício de um tumor maligno.
Considerado a "ovelha negra"
da ginecologia, pela dificuldade
de diagnóstico precoce e pelo alto
índice de letalidade, o câncer do
ovário afeta de 4 a 10 mulheres
brasileiras a cada grupo de
100.000, dependendo da região do
do país, segundo o Inca (Instituto
Nacional do Câncer).
Estudos do Instituto Nacional
do Câncer dos EUA indicam que
70% desses tumores são diagnosticados em estágios avançados.
Desses, 55% podem matar a mulher em até cinco anos. No Brasil,
não há dados semelhantes.
De acordo com Agnaldo Anelli,
diretor de oncologia clínica do
Hospital do Câncer de São Paulo,
o câncer do ovário é do tipo "traiçoeiro", que vai se infiltrando nos
tecidos próximos ao órgão sem
manifestar sintomas.
Por não possuir peritônio
(membrana serosa que reveste,
internamente, as cavidades abdominal e pélvica e, externamente,
as vísceras contidas nessas cavidades), o ovário fica mais vulnerável tanto para espalhar células
cancerígenas como para recebê-las de outros órgãos doentes.
Quando surgem os primeiros
sinais -em geral, desconforto
abdominal, azia, perda de peso e
sangramento vaginal-, já é tarde. O tumor cresceu, muitas vezes
apresenta metástase e pode estar
pressionando as alças intestinais.
Daí o aparecimento dos distúrbios gástricos, que, muitas vezes
acabam levando a mulher a procurar um gastroenterologista. "Às
vezes, o médico se limita a investigar o aparelho digestivo e esquece
do resto, o que é uma temeridade", afirma Anelli.
Diferentemente do que muita
mulher imagina, o câncer de ovário não pode ser diagnosticado
por papanicolaou -exame usado na prevenção do câncer do colo de útero. Por isso, a partir dos
40 anos, deve ser examinada pelo
ginecologista a cada seis meses e,
ao menos uma vez por ano, fazer
ultra-sonografia transvaginal.
Ao diagnosticar um cisto suspeito, os médicos podem adotar
condutas diferentes para pesquisar o câncer. Anelli, por exemplo,
é favorável que se faça a dosagem
dos marcadores tumorais
-substâncias presentes no sangue, produzidas pelo próprio tumor ou pelo corpo, em resposta à
presença do câncer.
Os principais marcadores para
o câncer do ovário é o CA-125, para os tumores epiteliais, presentes
em 90% dos casos de câncer. O
HCG e alfa-fetoproteína (AFP)
são indicados para os tumores das
células germinativas.
O médico Marcelo Zugaib, chefe do departamento de ginecologia e obstetrícia do Hospital das
Clínicas de São Paulo, não é adepto dos marcadores pela alta incidência de falsos positivos. É que o
exame pode apresentar níveis elevados em várias situações, como
no caso de fumantes ou de portadoras de endometriose.
A ginecologista Cláudia Gazzo,
do Hospital do Servidor Estadual,
lembra que nem todas as pacientes com câncer de ovário têm níveis elevados dos marcadores. Por
essa falta de especificidade, avalia
ela, fica difícil empregá-los em
triagens de rotina. Porém eles são
úteis para mulheres que já tiveram câncer, para monitorar possível reaparecimento da doença.
Zugaib prefere fazer a biopsia
do tumor, por meio da laparoscopia, um exame que exige anestesia
geral e que permite a visualização
do interior da cavidade abdominal. "Prefiro pecar pelo excesso."
Acontece que, se o tumor for
maligno, a intervenção pode espalhar o tumor pela cavidade abdominal e acelerar o desenvolvimento do câncer, alerta Maurício
Simões Abrão, professor da Faculdade de Medicina da USP.
Confirmada a doença, a terapia
primeira é a retirada dos órgãos,
que pode se resumir aos ovários
ou ser ampliada para as trompas,
o útero e outros tecidos próximos,
dependendo do estágio do câncer
e da idade da paciente. Outros tratamentos, como a quimioterapia,
podem ser necessários.
O caso da cabeleireira Ruth dos
Santos, 45, é uma exceção no universo dos cânceres do ovário pela
descoberta precoce da doença.
Ela conta que o cisto foi diagnosticado durante ultra-som transvaginal de rotina, há dois anos.
Em razão da idade e das características do cisto, a médica decidiu
investigar o achado com a laparoscopia. Mas no final foi feita cirurgia convencional. O tumor, em
fase inicial, era maligno e foi extirpado junto com os ovários, as
trompas e o útero. "Tive sorte.
Nem precisei da quimioterapia",
diz Ruth, mãe de três filhos.
(CLÁUDIA COLLUCCI)
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